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20 de novembro

'Preconceito racial não existe só em novembro', diz advogada sobre discussões sociais do Dia da Consciência Negra

Jurista paraibana acredita na importância da data, mas defende debates mais profundos e contínuos.

Por Dennison Vasconcelos Publicado em
Paraibana da cidade de Pombal, Emmanuela Dias atua em uma dos maiores escritórios jurídicos da Paraíba.
Paraibana da cidade de Pombal, Emmanuela Dias atua em uma dos maiores escritórios jurídicos da Paraíba. (Foto: Arquivo Pessoal cedido ao Portal T5)

Diante do Dia da Consciência Negra, celebrado neste sábado (20), debates em torno do racismo no Brasil acontecem com mais intensidade durante o mês de novembro. A advogada paraibana Emmanuela Dias, 39 anos, afirma que o problema é estrutural e ocorre a todo momento. "O preconceito não existe só em novembro. Passamos por ele todos os dias", disse a jurista em entrevista ao Portal T5.

Emmanuela defende a relevância da data instituída por lei, que faz referência à morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. "Temos que levar consciência, levantando debates e falando sobre a realidade. Assim, podemos destruir preconceitos na educação escolar, entre a família e os amigos”. Apesar disso, a jurista afirma que não é fácil falar sobre racismo.

"Ser lembrado apenas nessa época para falar sobre racismo não é tão agradável. É importante entender que racismo é uma ferida."

Esse corte profundo de custosa cicatrização faz vítimas, constantemente, em inúmeros ambientes sociais do Brasil. No meio jurídico, Emmanuela declara episódios constrangedores sofridos e sabe que não é exceção. "Não é fácil dizer que sou atendida de forma diferente ou ver em noticiários que jovens são assassinados em supermercados. É doloroso saber que existe um código para identificar pessoas negras dentro de lojas. Todos precisam compreender que não vivemos em um mar de rosas", diz.

Durante a entrevista, a advogada falou sobre o crime que foi vítima durante o trabalho.

“Estávamos em uma sala, em atendimento, e o cliente olhava para mim e dizia: eu não gosto de negro. Ele repetia essa frase várias vezes. Fiquei muito assustada. Meus colegas de trabalho reagiram, mas eu não tive reação, fiquei paralisada. Nunca havia sofrido uma atitude racista tão evidente. Hoje não sei qual a forma mais cruel: o racismo velado ou o mais agressivo. Os dois assustam"

Perpetuação de lutas e vitórias

Nascida no município de Pombal, no Sertão paraibano, Emmanuela Dias ocupa atualmente um cargo de notoriedade em um grande escritório de direito em João Pessoa. Como mulher negra, ela declara a importância da diversidade em espaços de poder e do compartilhamento de conhecimento. "Tive acesso à educação e reconheço que essa não é uma luta apenas minha. A vitória de uma mulher negra decorre de muitas gerações, de todos os antecedentes e de todas as batalhas que foram travadas", contou emocionada.

“Para estar aqui hoje, houve muito suor, e não foi só meu. Tudo isso me dá muito orgulho”

A posição privilegiada carrega a responsabilidade da jurista em ser exemplo para a população negra brasileira.

Na última semana, na terra onde nasceu, a advogada conheceu as origens de seus ancestrais. Em visita à comunidade quilombola Os Rufinos, localizada a 10 quilômetros da zona urbana de Pombal, Emmanuela foi convidada para falar sobre os desafios da mulher negra no mercado de trabalho.

No lugar que conheceu raízes, a advogada compartilhou frutos. "Recebi acolhimento, ensinamentos e um grande exemplo de um povo unido, forte e consciente! E isso encheu meu coração de esperança!!", compartilhou o agradecimento pelo convite em uma rede social.

Entre avanços e retrocessos, o Brasil continua sendo um país racista. Negros precisam se reconhecer e entender as questões urgentes de raça e preconceito. Evoluir depende da união, da força e do entendimento para o enfrentamento para tentar fechar a ferida do preconceito.

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