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Após 'Calvário', problemas de estrutura e gestão vem à tona na saúde pública da Paraíba

Em uma semana, cinco hospitais administrados pelo Estado e Município registraram episódios caóticos.

Por Redação Publicado em
Hospital metropolitano
Imagem: Divulgação

O escândalo de desvio de dinheiro público e pagamentos de propinas apurados pela Operação Calvário revelaram a fragilidade do sistema de saúde pública da Paraíba. Problemas causados pela corrupção não se restringem apenas à administração do setor, mas também causam problemas que prejudicam os usuários do Sistema único de Saúde (SUS).

Nesta semana, hospitais municipais e estaduais escancararam suas fragilidades estruturais e equívocos na administração do setor, efeitos diretos ou indiretos da corrupção  que fragiliza o sistema e afeta pacientes.

Kellyane Nascimento morre após suposto erro médico 

Morreu na noite da última quarta-feira (25), após sofrer uma parada cardiorrespiratória, a mulher internada no Instituto Cândida Vargas (ICV), em João Pessoa, depois de um suposto erro médico durante um parto. Há uma semana, a Secretaria Municipal de Saúde havia confirmado a morte cerebral da paciente.

Kellyane Neri do Nascimento, 28 anos, estava internada desde novembro, quando sentiu fortes dores na barriga e febres meses após o parto realizado dia 11 de setembro. De acordo com a família da jovem, materiais cirúrgicos foram esquecidos dentro da paciente durante o parto cesariano na maternidade.

Desde o início do mês, parentes de Kelyane protestam em frente à unidade de saúde e pedem justiça.

Em nota, a Secretaria de Saúde afirmou que lamenta o óbito da paciente e informou que os familiares estão recebendo todo o acompanhamento necessário por parte da equipe multiprofissional e da direção do (ICV). A secretaria ainda informou que os dados do prontuário serão encaminhados ao Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB), atendendo solicitação da entidade. Uma comissão sindicante apura o caso e, num prazo de 30 dias, apresentará relatório conclusivo sobre a situação.

Princípio de incêndio e fechamento do HTOP 

No último domingo (22), um princípio de incêndio atingiu um corredor do Hospital de Traumatologia e Ortopedia da Paraíba (HTOP), situado no bairro Tambiá, em João Pessoa. De acordo com a assessoria do complexo hospitalar, pacientes precisaram ser transferidos para outros hospitais.

Ao PortalT5, o Corpo de Bombeiros informou que foi acionado, porém, os próprios funcionários do local controlaram as chamas. Na quinta-feira (26), o secretário Geraldo Medeiros disse que o hospital vai ser fechado até o fim de dezembro. Ele alegou que o encerramento das atividades acontece pelo fim do contrato do aluguel do prédio onde funciona a unidade, na avenida Monsenhor Walfredo Leal.

Clínica para dependentes químicos é interditada pelo CRM

O Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB) interditou eticamente, na manhã dessa quinta-feira (26), a Comunidade Terapêutica Luz da Vida (CTLV), no município de Pitimbu/PB, a 56 km de João Pessoa.

A pedido do Ministério Público do Estado, a equipe de fiscalização do CRM-PB vistoriou a comunidade e constatou diversas irregularidades. De acordo com o diretor de fiscalização do CRM-PB, João Alberto Pessoa, estavam sendo aplicados medicamentos psicotrópicos nos pacientes sem prescrição médica, o que motivou denúncias de pacientes e familiares. Além disso, o local não conta com médicos todos os dias, nem equipe de saúde, não havia prontuários dos pacientes internados e alguns médicos não possuíam registro na Paraíba.

“Nossa equipe encontrou diversas irregularidades que motivaram a interdição ética do local. A clínica não pode funcionar desta forma e só será desinterditada pelo CRM após a correção desses problemas”, disse João Alberto.

O CTLV é um centro de tratamento de dependência química, privado, localizado em praia Bela, no município de Pitimbu.

Ala de hospital infantil é interditada após vazamento de vapor

Um vazamento de vapor, na noite dessa quinta-feira (26), fez com que uma ala do hospital infantil Arlinda Marques, em João Pessoa fosse interditada. De acordo com o Corpo de Bombeiros, uma equipe foi acionada por volta das 17h30 e socorreu cerca de sete vítimas, entre pacientes e funcionários, que passaram mal ao inalar a substância.

Em conversa com o PortalT5, o capitão Finizola, do Corpo de Bombeiros disse que, de acordo, com informações de funcionários do hospital, o vazamento teria começado ainda durante a tarde de se intensificou posteriormente. Ele relatou que a substância atinge principalmente as vias aéreas.

O secretário de Saúde do Estado, Geraldo Medeiros, afirmou que o vapor foi provocado por cloro orgânico. "Foi feita uma inspeção pelo Corpo de Bombeiros e servidores do hospital que detectaram que em uma área do local existe um depósito de cloro que é conectado a uma tubulação da água do poço para a caixa d'água. As duas mangueiras foram retiradas e houve um vazamento do cloro e isso causou um desconforto que ocasionou interdição. O Corpo de Bombeiros acredita que houve uma sabotagem para a retirada das mangueiras", explicou, em entrevista à TV Tambaú.

Paralisação dos médicos no Hospital de Trauma 

Médicos do Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, em João Pessoa, podem parar as atividades a partir deste sábado (28). De acordo com o presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM) Roberto Magliano, o órgão foi pego de surpresa. A informação foi apurada com exclusividade pela repórter Pollyana Sorrentino, no programa Tambaú da Gente, da TV Tambaú.

Segundo Magliano a decisão aconteceu após o fim do contrato com a Organização Social , Instituto Acqua, que gerenciava a unidade hospitalar. Nesta semana, o governador João Azevêdo (sem partido) determinou o fim dos contratos com todas as Organizações Sociais em hospitais da Paraíba. A deliberação foi um efeito das investigações da Operação Calvário, que apuram o desvio de verbas públicas na área da saúde.

De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde, os representantes do Sindicato dos Médicos do Estado da Paraíba (SIMED-PB) e o CRM já estiveram em conversa com o secretario de Saúde, onde esclareceram que todos os trabalhadores do Hospital de Trauma estão cientes de como será a fase de transição administrativa. A secretaria ainda informou que os funcionários ficam na gestão direta até abril de 2020, quando a fundação PB Saúde já poderá começar as atividades de administração e os novos contratos serão feitos por meio da administração pública.

Nesta sexta-feira (27), João Azevêdo nomeou Leonardo de Lima Leite para administração do Hospital de Trauma. Veja as mudanças nas unidades de saúde do estado: Nomeados diretores gerais dos hospitais de Trauma e Geral de Mamanguape, na PB

Operação Calvário - Juízo Final 

No dia 17 de dezembro, uma operação da Polícia Federal, com participação do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado do Ministério Público (Gaeco) e da Controladoria-Geral da União cumpriu 54 mandados de busca e apreensão e 17 mandados de prisão preventiva.

Essa sétima fase da Operação Calvário teve o intuito de combater uma organização criminosa atuante em desvio de verbas destinadas aos serviços de saúde da Paraíba, por meio de fraudes em procedimentos licitatórios e em concurso público, corrupção e financiamento de campanhas de agentes políticos, bem como superfaturamento em equipamentos, serviços e medicamentos. Além da Paraíba, os mandados são cumpridos no Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Goiânia e Paraná.

As investigações apuram o desvio de R$ 134,2 milhões em recursos públicos, dos quais mais de R$ 120 milhões teriam sido destinados a agentes políticos e às campanhas eleitorais de 2010, 2014 e 2018.


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