TV Tambaú
Jovem Pan
Nova Brasil Maceió
º
Janeiro Branco

Debate sobre saúde mental de militares tem barreiras culturais, diz especialista

Portal T5 conversou com uma especialista em segurança pública, que analisou dados sobre policiais militares afastados por problemas mentais na Paraíba

Por Juliana Alves Publicado em
Governo do Rio Grande do Norte pede reforço policial da Paraíba
Governo do Rio Grande do Norte pede reforço policial da Paraíba (Foto: PMPB)

Força, agilidade e valentia. Essas são algumas das características que formam o ideário de um profissional das forças de segurança. Mas, culturalmente, essas qualidades passaram a ser exigidas de militares a todo momento. Ou seja, adoecer não faz parte do ideal que se criou sobre um agente de segurança, especialmente dos homens.

Essa visão equivocada é ainda mais preocupante quando se trata de saúde mental. Para a especialista em Segurança Pública e professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Luziana Ramalho, o tabu historicamente criado sobre problemas psicológicos é um dos principais desafios na discussão sobre adoencimento mental entre as forças de segurança.

É urgente que se pense com mais cautela a qualidade de vida e trabalho desses profissionais. Porque eles são a ponta de lança de todo o controle estatal e, ao mesmo tempo, eles têm sido historicamente relegados a dois lugares ou ocupações no espaço-tempo: ou de serem super-heróis ou de serem responsabilizados por ações onde ocorrem falhas. E o Estado, a sociedade de um modo geral, esquece que eles fazem parte do mesmo pacto civilizador, humano.

Pensando nessa temática, o Portal T5 revelou com exclusividade dados sobre policiais militares afastados por problemas mentais na Paraíba. O relatório, obtido por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), mostra que 133 agentes foram retirados das atividades entre 2019 e 2022 por diagnósticos de problemas psicológicos. Somente no ano passado foram 69 agentes dispensados, quase o triplo de servidores afastados em 2021.

O aumento, segundo Luziana Ramalho, pode ser explicado ao observar o contexto da pandemia da Covid-19. Isso porque as forças de Segurança, assim como as de Saúde, foram muito demandadas durante esse período. Além da condição de medo que o vírus desconhecido gerava.

Esse índice explode agora em 2022 porque é exatamente quando se está no pico de estresse, tendo que dar respostas - e os militares são preparados para serem reativos e darem respostas imediatas. Quando eles baixam essa carga de estresse, vem à tona a fragilidade, que é uma condição de todo ser humano.

Apesar de ter sido registrado um aumento de quase 190% no afastamento de militares entre 2021 e 2022, a especialista acredita que esse número pode estar subnotificado. Entre outros fatores para isso, Luziana ressalta a questão cultural, refletida na idealização de militares super-heróis. Segundo ela, “muitos não buscam assistência médica ou psicológica e tentam resolver seus dramas existenciais sozinhos”.

Para ampliar a discussão sobre saúde mental nas forças de seguranças, e diminuir a subnotificação, a especialista acredita que é preciso humanizar, cada vez mais, a formação dos militares. Além de compreender melhor a condição de vulnerabilidade em que os profissionais da segurança pública estão expostos.

“Acredito que a primeira lição de casa que o Estado deveria fazer é consultar as produções do centro de ensino da Polícia Militar, muitas delas produzidas por policiais militares que atuam ou que têm formação na área de saúde. [A partir dessas pesquisas] rever políticas e implementar atualizações”, disse ela.

Estar comprometido com a saúde mental dos militares é um dever do Estado. E, para Luziana Ramalho, “cuidar e valorizar a vida, a saúde e as relações de trabalho de profissionais de segurança pública demonstra uma sociedade que amadureceu, que entende e respeita as funções sociais; e que cumpre o pacto civilizatório, que é o Estado de bem-estar social”.

Janeiro branco - O primeiro mês do ano é dedicado à campanha de conscientização sobre a importância da prevenção do adoecimento mental. A campanha busca incentivar reflexões, debates e planejamento de ações em prol da saúde mental.

Leia também:


Relacionadas