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Dia do Professor: 60 anos de desafios e a busca pela valorização na PB

Embora tenham se passado seis décadas desde a oficialização do Dia do Professor, os desafios para os profissionais do magistério persistem

Por Carlos Rocha Publicado em
Conselho para prefeitos não pagarem o novo piso dos professores é temerário 
Conselho para prefeitos não pagarem o novo piso dos professores é temerário  (Foto: Reprodução)

Neste domingo, 15 de outubro, comemoramos 60 anos desde que a data foi oficializada como o Dia do Professor em todo o Brasil. O decreto que instituiu essa celebração foi assinado em 1963 pelo então presidente João Goulart. Entretanto, a história da valorização dos educadores inicia em 1827, quando Dom Pedro I assinou o decreto que criava o ensino elementar no Brasil, também em 15 de outubro. Essa data fazia referência a Santa Teresa de Ávila, figura ligada à tradição católica, conhecida como educadora e amante dos livros.

Embora tenham se passado seis décadas desde a oficialização do Dia do Professor, os desafios para os profissionais do magistério persistem.

A jornada do professor

Contrariamente ao que muitos pensam, a rotina de milhares de professores e professoras não se restringe ao tempo em que estão dentro da sala de aula. A dedicação começa na preparação das aulas, correção de atividades e participação em formações contínuas. Além desses fatores, esses profissionais encaram diariamente desafios que vão desde a falta de estrutura das unidades de ensino até dificuldades de conexão tecnológica, insegurança e a ausência de suporte à saúde mental.

Uma pesquisa realizada no ano passado pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp) alertou para um possível déficit de 235 mil professores no Brasil até 2040, caso não sejam feitos investimentos na formação de docentes para a educação básica. Entre 2010 e 2020, o ingresso em graduações destinadas à carreira do ensino cresceu 53,8%, enquanto em outros cursos esse aumento foi de 76%. O desinteresse dos jovens em abraçar a profissão de professor se deve, em parte, à precarização da carreira e à falta de valorização de seu papel na sociedade.

A voz

Para Antônio Arruda, Coordenador Geral do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação da Paraíba (Sintep-PB), a desvalorização é um dos principais motivos da crise na educação. Em conversa com o Portal T5 ele destacou que, além dos desafios cotidianos, os professores enfrentam uma remuneração que não atinge o mínimo necessário, conforme apontado pelo Departamento Intersindical de Estudo Sócio Econômico (Dieese) para garantir a subsistência de uma família.

"Queremos ser lembrados e valorizados todos os dias para que possamos realmente trabalhar com dignidade e buscar aquilo que tanto almejamos: uma educação pública de boa qualidade para toda a sociedade e para toda a humanidade" (Antônio Arruda, Coordenador Geral do Sintep-PB)

VÍDEO- AGORA: Antônio Arruda informa programação com caminhada e ato público dos professores

Arruda enfatiza que a valorização dos professores é frequentemente limitada à retórica política. Segundo ele, os gestores públicos costumam prometer apreço pela categoria, mas, na prática, priorizam seus próprios interesses políticos. Ele aponta que a valorização real dos educadores requer ação efetiva e vontade política por parte dos gestores.

"Todas as pessoas que ocupam o cargo público, principalmente os gestores (governadores, presidentes, prefeitos), sempre dizem que valorizam os professores e que têm admiração por eles. Mas, na verdade, a maioria gosta mesmo é de fazer dos profissionais de educação multiplicadores de opiniões para defender os seus interesses políticos. Isso é o que ocorre, porque a valorização fica longe, muito longe, e fica apenas na ideia. E olha lá se a pessoa tem ideia, porque, como eu sempre digo, se o gestor tiver vontade política, ele faz acontecer", afirmou o coordenador.

Além disso, o coordenador enfatizou que a categoria deve estar unida, lutando e acreditando que a valorização do profissional de educação transpasse o discurso e torna-se cada dia mais palpável para contribuir com uma sociedade mais humana, justa e desenvolvida.

"Devemos continuar unidos, lutando com empenho pela nossa educação, fazendo com que as pessoas valorizem o nosso trabalho, assim como Antonieta Barros, a primeira professora negra do país, que lutou bastante para ser uma profissional de educação, e Salomão Becker, que foi um grande lutador junto com outro grupo em São Paulo que fez com que o dia 15 de outubro fosse o dia em que as pessoas pensassem nos professores e nas professoras como o seu dia", mencionou Arruda.

Desafios

Para Felipe Baunilha, diretor do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação (Sintep-PB), os desafios atuais da profissão docente vão além da sala de aula. Ele destaca que os professores precisam se adaptar às mudanças tecnológicas e enfrentar desigualdades sociais, sobretudo após os impactos da pandemia. Baunilha ressalta que a pandemia reforçou a importância do papel mediador e do contato humano no processo de aprendizagem.

"Neste Dia do Professor, é importante valorizar o professor e a professora e celebrar a função fundamental que nós cumprimos na sociedade, que é a formação de todas as profissões e a informação para a cidadania. E que continuemos nossa batalha por valorização profissional", (Felipe Baunilha, diretor do Sintep-PB)

Felipe Baunilha é diretor do Sintep-PB (Foto: Brasil de Fato PB)

"A pandemia mostrou mais uma vez que o profissional docente é essencial. Apesar dessas novas tecnologias, a mediação, o contato entre seres humanos e a troca são o princípio do processo de aprendizagem. Então, os profissionais da ciência se mostraram essenciais ainda neste Século 21 e a perspectiva é que continue sendo assim, porque a aprendizagem é um processo eminentemente humano e ela vai se reinventando mesmo com as novas formas de organização social. Esse esforço docente durante esse processo de pandemia mostra que ainda temos um longo caminho para a valorização da profissão docente", disse Baunilha.

O diretor também destaca a necessidade de valorizar os professores a partir de três pilares: o pagamento do piso salarial nacional, a construção de planos de carreira e o estímulo à capacitação contínua. Ele enfatiza que a educação é um processo constante de aprendizado, e é fundamental que estados, municípios e redes de ensino invistam na formação profissional e na capacitação docente.

"Acho que esse é o principal caminho para a valorização aqui na Paraíba. Infelizmente, ainda temos cerca de 40 ou 50 prefeituras que não pagam o piso salarial. No estado, os profissionais concursados já recebem o piso salarial. É importante que a gente diga isso: o governador paga acima do piso, mas não para os profissionais com contrato de serviço ou contrato de prestação de serviços profissionais, que ainda não recebem o piso. Nós ainda estamos longe do que poderíamos chamar de valorização profissional", destacou.

Felipe destacou também que, além dos desafios na valorização, os professores também enfrentam dificuldades em relação às condições de trabalho e à segurança. Muitas escolas enfrentam problemas estruturais que afetam o ambiente de ensino, e os professores precisam lidar com condições precárias e, às vezes, perigosas.

O diretor finalizou dizendo que o professor é essencial para a construção de uma sociedade educada e informada. Neste Dia do Professor, é fundamental reconhecer o papel crucial desempenhado por esses profissionais na formação de futuras gerações. A luta pela valorização da categoria continua, com o objetivo de alcançar uma educação pública de qualidade e dignidade para todos.

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