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Coluna - Josival Pereira

Os atos antidemocráticos em Brasília, Bolsonaro e a extrema direita

As cenas lamentáveis de Brasília são efeitos na insistente pregação contra as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral mesmo sabendo-se de sua consistência

Por Josival Pereira Publicado em
Os atos antidemocráticos em Brasília, Bolsonaro e a extrema direita
Os atos antidemocráticos em Brasília, Bolsonaro e a extrema direita (Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil)

Os condenáveis, por todas as formas legais, atos antidemocráticos ou golpistas de Brasília não podem ser tomados com “surpresa” por autoridades de qualquer natureza, pela imprensa nem pela sociedade.

A ocupação violenta e destruidora do Congresso, sede do STF (Supremo Tribunal Federal) e do Palácio do Planalto não apenas foi detalhadamente organizada nos últimos dias, com anúncios cristalinos nas redes sociais, como cumpriu um roteiro rigorosamente planejado, sendo, assim, consequência de uma intensa pregação golpista perpetrada nos últimos anos

Esse é o ponto. Com desdobramentos ainda imprevisíveis, mas não de difícil compreensão.

A tentativa de golpe - como os atos deste domingo podem ser caracterizados conforme a lei-, em verdade, se constitui na gota d’água; na explosão da exteriorização tresloucada de uma ideia fixa incutida na mente de muitas pessoas, na materialização de uma quimera muito bem alimentada política e ideologicamente.

As cenas lamentáveis de Brasília são efeitos na insistente pregação contra as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral mesmo sabendo-se de sua consistência, do cultivo do ódio contra adversários políticos e da incitação aberta ao golpe autoritário através da falsa ideia de que as Forças Armadas podem intervir institucionalmente sempre que um resultado eleitoral não for do agrado de determinado agrupamento ou corrente política.

Essa pregação, feita de forma renitente e utilizando os poderosos instrumentos de comunicação do Estado, com certa dosagem de fanatismo, conseguiu juntar os grupos sociais que, por natureza, desprezam a democracia. Juntar e organizar. O perigo decorre da organização e da crença cega de que formam a maioria da população. É o que pensa hoje grande parte da direita radical brasileira.

A extrema direita está presente em todos os recantos do mundo. Quase sempre golpista. Sempre muito radical, mas, ainda assim, ampliado suas forças nas últimas décadas. O discurso contra a migração a favorece na Europa. Ao redor do mundo, o combustível da direita radical tem sido o discurso antissistema e a pauta conservadora de costumes. A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos foi a encarnação do poder da extrema direita em grande países democráticos, servindo de espelho para o Brasil.

Por aqui, então, Jair Bolsonaro  virou líder nacional e chegou ao poder no cansaço e desgaste dos governos de esquerda, além do vácuo de lideranças da direita liberal. Virou um grande guarda-chuva das forças conservadores, com a extrema direita em seu interior. Agora, com a derrota nas urnas, eclodem contradições e divergências e, com isso, os territórios políticos vão ficando demarcados. A direita radical pula à ponta e tenta liderar o movimento desenhado exatamente por Bolsonaro, que, na essência, sempre encarnou as bandeiras do conservadorismo extremado.

O problema é que Bolsonaro sempre incitou os grupos de extrema direita, mas tentando manter a confiança de todo o campo da direita. Porém, a dubiedade de posição e comportamento acabou não contendo o extremismo.

Os grupos que estavam acampados em frente aos quartéis do Exército contestando o resultado das eleições são a expressão do discurso de Bolsonaro, especialmente nos últimos dois anos. Os grupos que atacaram a sede dos poderes em Brasília materializa a ação que Bolsonaro não verbalizou tentando não perder o apoio dos segmentos da direita não radical. Contudo, ambos movimentos são a extrema direita em sua face mais organizado na história brasileira e talvez a mais ousada e mais violenta.

O país terá que conviver a partir de agora que essa corrente política ou facção ideológica, ora participando do processo eleitoral em aliança com a direita geral, ora participando de movimentos e atos antidemocráticos. É isso que está se sucedendo.

Em circunstâncias normais, as forças de extrema direita nos países democráticos formam quase sempre um gueto político com menos de 10% da simpatia da população. Nos últimos anos, avança em algumas eleições, dependendo de conjunturas específicas, como foi o caso recente da Itália. De qualquer forma, tem estado muito presente e feito muito barulho em diversos países. Não seria diferente no Brasil. Poderá, daqui pra frente, ser mais ou menos forte, dependendo do destino de Bolsonaro.


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Josival Pereira

JOSIVAL PEREIRA, natural de Cajazeiras (PB), é jornalista, advogado e editor-responsável por seu blog pessoal.

Em sua jornada profissional, com mais de 40 anos de experiência na comunicação, atuou em várias emissoras Paraibanas, como diretor, apresentador, radialista e comentarista político.

Para além da imprensa, é membro da Academia Cajazeirense de Letras e Artes (Acal), e foi também Secretário de Comunicação de João Pessoa (2016/2020), Chefe de Gabinete e Secretário de Planejamento da Prefeitura de Cajazeiras (1993/1996).

Hoje, retorna à Rede Tambaú de Comunicação, com análises pontuais sobre o dia a dia da política nacional e paraibana.