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Coluna - Josival Pereira

Jogo sujo da campanha vence debate sobre planos de governo

A má utilização da internet em campanhas eleitorais já contaminou o mundo

Por Josival Pereira Publicado em
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(Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil)

Faltando apenas duas semanas para a votação em segundo turno das eleições para presidente da República não dá mais para não perceber que as campanhas oficiais dos dois candidatos que passaram ao segundo tempo da disputa incorporaram em todos seus canais de propaganda a lama que inundava as redes sociais.

Piorou muito agora, com a adesão quase total da campanha de Lula aos expedientes que já eram marca de Bolsonaro desde 2018, mas o jogo suja das fake news já estava bem presente no primeiro turno.

Levantamento de reportagem do jornal O Estadão (edição deste sábado) revela que, até o dia 2 de outubro, somente no Facebook e no Instagram, redes de frequência mais geral, foram contabilizamos 70,3 milhões de conteúdo lixo das duas campanhas. Houve forte interação (curtidas, comentários e compartilhamentos) em 22,6 milhões das mensagens com desinformações.

É desolador para um país que se pretende democrática e no caminho do desenvolvimento pleno, porém, o jogo sujo predomina sobre as pautas que dizem respeito a planos de governo. Temas como Maçonaria, canibalismo, satanismo, “CPX”, zoofilia, fechamento de igrejas, pedofilia, aborto, crime organizado e comunismo ganham de lavada da fome, desemprego, inflação, Auxílio Brasil e Salário Mínimo.

Alguns números revelam a grave dimensão da estupidez nacional. Enquanto o Facebook registrou, só no primeiro turno, 67.218 menagens de conteúdo sujo da campanha, foram contabilizadas 14.133 posts relativos à fome, 13.108 ao desemprego, 10.307 sobre inflação, 10.351 falando do Auxílio Brasil e 2.766 abordando o tema inflação.

A constatação é óbvia: a ideia histórica de que, numa democracia, as eleições servem para discutir planos de governo fracassou completamente na campanha eleitoral brasileira.

O problema não é exclusividade do Brasil. A má utilização da internet em campanhas eleitorais já contaminou o mundo.

Triste é pensar que a podridão das fake news tomou conta das redes sociais em campanhas eleitores em tão pouco tempo. A primeira campanha que usou as redes sociais mais amplamente como instrumento de propaganda foi a de Barak Obama, em 2009, nos Estados Unidos. Mas era apenas um meio de interação com os jovens e arrecadação de fundos para a campanha.

Um dos marqueteiros da campanha de Dilma Housseff, em 2010, contou, durante seminário sobre propaganda eleitoral realizado no ano seguinte em João Pessoa, que o combate à ataques nas rede sociais era feito apenas com a postagem de notícias positivas. Nada de respostas, comentários ou contra-ataques. Ainda havia uma quase inocência nas redes.

A sujeira das fakes news foi usada abundantemente na campanha do Republicano Donald Trump de 2017, nos Estados Unidos. Daí, ganhou o mundo e o Brasil na campanha de Bolsonaro de 2018.

Em que pese uma ação mais firme da Justiça Eleitora na campanha eleitoral em curso, nada está conseguindo deter o submundo que tomou contas das redes sociais. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já ordenou 334 retiradas de conteúdos falsos na campanha. A campanha de Lula fez 306 pedidos e a campanha de Bolsonaro apenas 10. Mas, agora, segundo turno está funcionando o vale-tudo. Quase tudo, dos dois lados, é chute abaixo da linha da cintura.

Alguns cientistas avaliam que as redes sociais vão continuar sendo usadas nas próximas eleições para a desinformação e a tentativa de destruição de adversários com comunicações falsas e mentirosas.

Quando, então, esse esgoto que ameaça à democracia vai ser tapado? A resposta mais animadora é a de que apenas quando os próprios políticos se perceberam que as fake news não são mais úteis, ou seja, quando o uso generalizado desmoralizar o instrumento mais sórdido já usado em campanhas eleitorais.

A democracia vai continuar sangrando. A esperança é que resista, enquanto o ser humano deturpa, deteriora e usa para o mal quase tudo aquilo que é inventando, inicialmente, para o bem. A internet precisa passar por um debate bem intenso.

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Josival Pereira

JOSIVAL PEREIRA, natural de Cajazeiras (PB), é jornalista, advogado e editor-responsável por seu blog pessoal.

Em sua jornada profissional, com mais de 40 anos de experiência na comunicação, atuou em várias emissoras Paraibanas, como diretor, apresentador, radialista e comentarista político.

Para além da imprensa, é membro da Academia Cajazeirense de Letras e Artes (Acal), e foi também Secretário de Comunicação de João Pessoa (2016/2020), Chefe de Gabinete e Secretário de Planejamento da Prefeitura de Cajazeiras (1993/1996).

Hoje, retorna à Rede Tambaú de Comunicação, com análises pontuais sobre o dia a dia da política nacional e paraibana.