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“Sempre estão esperando que você não seja capaz”, diz estudante negro de Medicina de universidade pública da PB

Ramon Ribeiro é um dos três negros em uma turma com mais de 50 pessoas, no curso mais concorrido da área de Saúde no estado.

Por Redação Publicado em
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Foto: Arquivo Pessoal

Cursando o 4º período, Ramon conta as dificuldades enfrentadas no curso predominantemente branco. De acordo com ele, na sua sala com 57 alunos, apenas três são negros. “É complicado estar em um ambiente acadêmico onde você tira uma nota boa e as pessoas estranham. Sempre estão esperando que você não seja capaz ou que deve provar o seu valor para estar no mesmo lugar que eles”, desabafou.

“Isso torna cada dia aqui dentro um ato de resistência. É cansativo, mas a minha pele traz toda a força dos meus ancestrais. Se foram nossos antepassados que construíram esse país, ele é nosso por herança. A faculdade é nossa por herança e a gente tem força e capacidade para isso”, ressaltou.

Há dois anos morando em João Pessoa, Ramon decidiu criar um projeto chamado @sargento.fit através das redes sociais a fim de estimular outros jovens a resistirem a uma sociedade desigual que dificulta o acesso a oportunidades e a qualidade de vida digna a população negra.

“Vivi e conheço que estamos em um mundo violento e de injustiças no qual uma parcela tem privilégios enquanto a outra conhece o descaso e o genocídio. Não ignoro essas violências mas tento motivá-los a realizar seus objetivos com determinação e disciplina”, pontuou.

O Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado neste dia 20 de novembro, carece da reflexão social sobre as circunstâncias nas quais os negros estão negativamente submetidos na contemporaneidade.

Em agosto deste ano, uma reportagem do PortalT5 apontou que 91,4% das vítimas de homicídios na Paraíba são negras, conforme dados de 2017, verificados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em conjunto com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública que foram divulgados pelo Atlas da Violência de 2019.

Segundo o levantamento, morrem mais jovens negros do sexo masculino. Em 2017, 1.341 homicídios foram registrados no estado paraibano, sendo 33,9 mortes violentas por 100 mil habitantes. Entre as vítimas, 1.227 eram pessoas negras, o que equivale a 91,4%.

Nesse cenário, as mulheres negras também são parte de estatísticas alarmantes, consequência da combinação de opressões que envolvem o machismo, sexismo, misoginia e racismo. Nos últimos dez anos, o número de assassinatos desse grupo aumentou cerca de 55%, enquanto o de mulheres brancas diminuiu 10%, conforme divulgou o Mapa da Violência, em 2015.

O Dia da Consciência Negra foi escolhido por coincidir com a morte de um dos maiores líderes do povo negro brasileiro, Zumbi dos Palmares, que lutou para que essa população fosse libertada do sistema escravocrata.

A data agrega ainda o resgate à memória de antepassados que devem ser reconhecidos e respeitados, como Dandara dos Palmares, Tereza de Benguela, Eusébio de Queirós, Maria Firmina dos Reis, Luís Gama, André Rebouças, Mãe Menininha do Gantois, Antonieta de Barros, Abdias do Nascimento e vários outros milhares de negros, não menos importantes, que contribuíram e tornaram possível que uma jovem negra, estudante de Jornalismo, contasse essa história.


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