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Paraíba está na rota de investimentos e projetos da China no Brasil

Licitação para compra de câmeras com reconhecimento facial e participação no estaleiro em Lucena​ estão entre os negócios.

Por Redação Publicado em
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Lucena, no Litoral Norte da Paraíba. Lucena, no Litoral Norte da Paraíba. Foto: Divulgação

Enquanto os EUA pressionam o governo Bolsonaro para barrar certos investimentos chineses no país, empresas de tecnologia da China, inclusive as banidas pelo governo americano, aumentam seus laços e suas vendas a governos do Nordeste do Brasil.

Na Paraíba, exite uma lista de grandes investimentos e projetos chineses previstos para licitação para compra de câmeras com reconhecimento facial e participação da chinessa IMC-YY no estaleiro em Lucena, no Litoral Norte. Em abril, João Azevêdo assinou um protocolo de intenções para instalação do estaleiro, com investimento de R$ 3,5 bilhões.

As empresas chinesas de tecnologia Huawei, ZTE, Dahua e Hikvision, todas sob algum tipo de embargo americano sob acusação de representarem ameaça à segurança nacional, estão negociando ou fornecendo serviços e produtos no Nordeste. O intercâmbio entre a China e os nove estados nordestinos nunca foi tão intenso.

Só neste ano, quatro governadores e dois vice-governadores da região estiveram no país asiático -e a peregrinação de secretários foi ainda maior. A China também mandou inúmeras comitivas para os estados. O grupo Consórcio Nordeste, formado no início do ano por governos estaduais para promover parcerias na região, vai lançar em breve o programa Nordeste Conectado, uma PPP (parceria público-privada) para instalar milhares de quilômetros de fibra ótica e conectar os estados. "A Huawei e a ZTE estudam as etapas de tele-educação, tele segurança e tele saúde, e estão muito interessadas no projeto Nordeste Conectado", disse à Folha o governador do Piauí, Wellington Dias (PT). A ZTE investe no projeto Piauí Conectado, PPP para instalação de 5.000 quilômetros de rede de fibra óptica.

Os estados da região também querem se unir para comprar sistemas de monitoramento para segurança pública, aproveitando a experiência do país na área. Câmeras de companhias como Dahua Technology e Hikvision são usadas pelo governo chinês para monitorar cidadãos da minoria muçulmana uigure na província rebelde de Xinjian. Segundo Lucas Kubaski, gerente da área de pré-vendas da Dahua, o Consórcio Nordeste está muito interessado nas tecnologias para segurança e câmeras que fazem reconhecimento facial.

As câmeras conseguem detectar a expressão -tristeza ou alegria, por exemplo-, além de tipo e cor de roupa usadas e a idade aparente. Na China, segundo ele, as câmeras ficam posicionadas em entradas de metrô, aeroportos, rodoviárias e conseguem mapear quem entra e sai das cidades. "Serve tanto para segurança quanto para encontrar pessoas perdidas." A Dahua, que fabrica câmeras com capacidade de reconhecimento facial e que entrou em agosto na lista de empresas vetadas pelos EUA, já fornece equipamentos para os governos de Pernambuco e Bahia, além de participar de uma licitação do metrô de São Paulo. A cidade, aliás, foi pioneira: recebeu mil câmeras em 2017. Também no estado de São Paulo, cujo governador, João Dória, inaugurou um escritório comercial em Xangai neste mês, a Huawei anunciou o plano de abrir uma fábrica para montagem de celulares, com investimento de US$ 800 milhões.

Na Bahia, foram investidos mais de R$ 18 milhões no sistema de reconhecimento facial da chinesa Huawei. Segundo o governo, a tecnologia permite à polícia baiana comparar os rostos de pessoas que circulam nos locais onde as câmeras estão instaladas com os do banco de dados da Secretaria de Segurança Pública.

O Ceará estuda ampliar seu sistema Spia, de videomonitoramento, com parcerias com a Dahua. Em Pernambuco, foram compradas 1.380 câmeras da mesma empresa para segurança no metrô. "As empresas chinesas de telecomunicações estão participando ativamente da cooperação de cidades inteligentes e seguras, governança eletrônica e comércio eletrônico no Nordeste", disse à Folha a cônsul da China no Recife, Yan Yuqing. "Estamos dispostos a contribuir para o desenvolvimento da tecnologia de informação no Brasil sob o Belt and Road Initiative [BRI ou, informalmente, Nova Rota da Seda]", afirma ela, em referência ao maior projeto do governo chinês para ter acesso a mercados internacionais por meio de obras de infraestrutura.

Os EUA tentam convencer o presidente Bolsonaro a seguir países como Austrália, Nova Zelândia e Taiwan, que vetaram investimentos e produtos de empresas chinesas para contratos públicos, fornecedores do governo ou qualquer um que receba empréstimo do governo.

Em visita ao Brasil no início de agosto, o secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, alertou, em entrevista ao jornal Valor Econômico, para o perigo de comprar tecnologias sensíveis como produtos para a rede 5G de certos países. Também afirmou que a China obriga suas empresas a cooperarem com serviços militares e de inteligência do Estado. Em resposta, o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, afirmou que esses comentários visam a "lançar calúnias sobre produtos chineses, alegando riscos de segurança, e a atrapalhar a cooperação econômica e comercial normal entre a China e os demais países do mundo".

Com informações de PATRÍCIA CAMPOS MELLO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)


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