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Levantamento mostra impacto do Funk na cultura brasileira

São 32 anos da primeira batida do funk carioca no país. Mas como um segmento anteriormente tão restrito às periferias do Rio de Janeiro se tornou uma das principais referências musicais do Brasil?

Por Renata Nunes Publicado em
Evolucao funk
(Arte: betWay)

São 32 anos da primeira batida do funk carioca no país. Mas como um segmento anteriormente tão restrito às periferias do Rio de Janeiro se tornou uma das principais referências musicais do Brasil? O jornalista e escritor Silvio Essinger, autor do livro “Batidão: Uma História do Funk”, explica que o ritmo já colecionava a antipatia de parcelas da sociedade antes mesmo da existência do termo “haters”.

“O funk já contava com uma boa parcela de ódio muito antes de se falar em ‘haters’. Já nos anos 90, era incluído num pacote de música brasileira desprezível, inculta, junto com os também populares axé music e pagode romântico. Desde então, passaram por um processo de reavaliação. E nos anos 2000 ressurgiram, diante do senso comum, como expressões legítimas de uma cultura brasileira. Hoje, o funk tem mais de 30 anos de história, está arraigado no imaginário do brasileiro, formou público fiel e gerações de artistas”, destacou.

De acordo com um levantamento do time de conteúdo da Betway, site de roleta online, o gênero incorporou muitas influências ao longo do tempo e conseguiu deixar sua marca na história do país como uma legítima expressão cultural brasileira.

Origem

A trajetória do gênero tem início lá nos anos 70 com o surgimento dos bailes funk nas favelas cariocas. A principal ligação com o ritmo estadunidense vem dessa época, onde nesses espaços, se tocavam músicas de nomes mundialmente consagrados como James Brown e Clyde Stubblefield.

Na década seguinte, com a popularização da música eletrônica e do hip hop, DJs brasileiros começaram a fazer suas próprias versões em português de canções do gênero Miami Bass, vertente do funk feito na Flórida (EUA) com muito grave e que teve grande influência para a origem do que hoje conhecemos como Funk carioca.

Entre os primeiros DJs do país a produzir tais versões, está. 1”, em o DJ Marlboro, responsável pelo lançamento da coletânea “Funk Brasil Vol 1989. O álbum, considerado seminal para funk carioca, incluiu o a música “Melô da Mulher Feia”, do MC Abdullah, primeiro funk cantado em português.

De acordo com uma entrevista do artista ao time da Betway, a gravadora queria lançar o disco com o nome “Carioca” em vez de “Brasil”. Porém, já vislumbrando o mercado nacional, DJ Marlboro decidiu manter o nome do país no título.

“Quando fiz o ‘Funk Brasil’, em 1989, quase não lanço! O pessoal da gravadora queria usar o ‘Carioca’ no disco. Já tinham feito até um ensaio de capa com o nome ‘Funk Carioca’. Aí eu disse: ‘Não! Tem que ser ‘Funk Brasil’ porque o funk não tem que ficar resumido ao Rio de Janeiro”, disse o DJ.

Popularização

Os anos 90 viram os primeiros artistas do gênero a ganhar projeção nacional. A convocação de Marlboro como DJ oficial do programa da Xuxa em 1994 foi um dos principais passos para a popularização do Funk.

“Marlboro conseguiu exposição para os seus artistas no programa da Xuxa. Em 96, Claudinho & Buchecha estariam fazendo essa transição de forma mais eficiente com um CD de estreia que podia ser ouvido sem estranhezas pelo público de Lulu Santos”, diz Silvio Essinger.

A partir de então, subgêneros como o funk melody nasceram, sendo o hit “Glamurosa”, do MC Marcinho, expressão de uma época em que o gênero que começava a ganhar novas proporções. Logo em seguida, o Funk proibidão surgiu com um estilo mais cru e agressivo, ressaltando nas letras conteúdo sexualmente explícito.

Nos anos 2000, portanto, o Brasil contou com hits eróticos que marcaram época como “Cerol na Mão”, do Bonde do Tigrão, enquanto que “Eguinha Pocotó”, do MC Serginho e Lacraia, virava febre com o público infantil. Da mesma vertente, artistas como Valesca Popuzada (ainda na Gaiola das Popozudas), Tati Quebra-Barraco e o MC Catra fariam muito sucesso entre os jovens.

Reconhecimento

Em 2005, vem a consagração mundial com o single “Bucky Done Gun”, da rapper inglesa M.I.A, que possui sample da faixa “Injeção”, de Deize Tigrona. O lançamento da música e a veiculação do clipe no Brasil marcaram a primeira vez que uma música estrangeira inspirada no Funk carioca foi tocada nas rádios e canais de música brasileiros, fato que contribuiu para o aumento de popularidade no país de origem.

Já no final da década, o funk ostentação, também conhecido como “Funk paulista”, definiu a cultura de exaltação ao consumo e posse de bens materiais tendo o principal nome o MC Guimê. Um ano depois, o MC Créu lança a moda das mulheres fruta com a “Dança do Créu”.

Em 2013, Anitta explode com o hit “Show das Poderosas”, tornando-se o maior nome da história do movimento. A cantora consolidaria uma carreia repleta de sucessos nos rádios durante a década, culminando na sua apresentação no palco principal do Rock in Rio, em 2019, que representou o reconhecimento dos 30 anos do funk no Brasil.

Dois momentos memoráveis da década também valem ser destacados: “Tá Tranquilo, Tá Favorável”, do MC Bin Laden, ganhou o público em 2015, sendo o hit dos festivais pelo mundo e “Baile de Favela”, do MC João, e “Deu Onda”, MC G15, consolidaram o funk de São Paulo em 2016.

Além disso, o funk se proliferou com a junção de diferentes ritmos regionais do país. Se em Recife (PE) o movimento “bregafunk” ganhou força, em Minas Gerais, Espírito Santo e Rio Grande do Sul, o “funknejo” é um dos ritmos mais tocados pelos artistas locais.

Desde então, o movimento foi tema da série documental Funk.Doc, exibida pelo Canal HBO, que mostra o fenômeno dessa expressão cultural nas comunidades de Heliópolis e Paraisópolis, em São Paulo. E, como reconhecimento da popularidade entre os brasileiros, o sucesso “Bum Bum Tam Tam”, de MC Fioti, virou o hino oficial da campanha de vacinação contra a covid-19.

O meu plano para o funk era que ele fosse um movimento nacional, com visibilidade internacional, para gerar emprego no Brasil inteiro. Queria que cada região colocasse características locais nas suas músicas, que espelhasse aquilo que as pessoas respiram, seu cotidiano, seu dia a dia. A cultura local está entranhada no funk”, ressaltou DJ Marlboro.

Segundo o Datafolha e a consultoria JLeiva Cultura & Esporte, o funk tem a predileção dos brasileiros entre 12 a 15 anos, entre 55% dos entrevistados. O ritmo também ocupa o segundo lugar na lista de mais ouvidos em 23 estados brasileiros e vem ganhando força em países como EUA, México e Portugal. Com tantas conquistas após três décadas de existência, os próximos capítulos dessa história certamente ainda terão muito o que contar e encantar o mundo.


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