A poucas horas do julgamento, Lula ataca mercado, elite e mídia
Se a sentença de Moro for confirmada, ex-presidente poderá ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa
A poucas horas do início do julgamento que poderá tirá-lo da eleição de outubro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez nesta terça (23) em Porto Alegre um discurso recheado de ataques.
Um mercado com "yuppies", uma "elite perversa" e uma "imprensa mentirosa" foram os principais alvos do petista na Esquina Democrática, praça em Porto Alegre.
Nesta quarta (24), às 8h30, três juízes federais do Tribunal Regional Federal da 4ª Região decidirão o recurso contra a sentença do juiz Sergio Moro, que condenou Lula a nove anos e seis meses de prisão em julho do ano passado. O resultado deve sair à tarde, a menos que haja um pedido de vista.
Se a sentença de Moro for confirmada, Lula, 72, poderá ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa, sendo barrado na eleição, na qual aparece como líder nas pesquisas.
"Ah, o mercado tem medo de Lula", disse o ex-presidente, reproduzindo uma impressão que seria disseminada contra sua candidatura.
"Não sei se é mercado ou um bando de yuppies, meninos. Não preciso do mercado, preciso de empresas produtivas, preciso de agricultura produtiva e agricultura familiar, responsável por 70% do alimento na mesa do povo brasileiro. Preciso que o povo participe para que a gente possa recuperar esse país."
"Se eu fosse a tranqueira que eles falam... Tranqueira por tranqueira, eles arrumaram o Temer, arrumaram o golpe. Eles sabem que nós sabemos cuidar do povo brasileiro", acrescentou.
O petista continuou: "Não posso me conformar com complexo de vira lata que tomou conta do país", disse, criticando uma "elite subserviente que quer falar grosso com a Bolívia e como um gatinho com os EUA".
A oratória incluiu críticas consecutivas à Rede Globo. "Duvido que o William Bonner, da Globo, durma todo dia com a consciência limpa que estou. Sei que não cometi crime, mas ele sabe que está mentindo."Alvejou ainda Luciano Huck -não mencionou seu nome, mas citou um "candidato inventado pela Globo num caldeirão".
Petistas como o ex-ministro Jaques Wagner afirmam que o partido não tem plano B e que irão manter a candidatura do ex-presidente independente do resultado.
Wagner, cogitado como alternativa do PT, disse que "não teria tesão" de concorrer nessas circunstâncias.Lula é réu sob suspeita de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele é acusado de receber propina da empreiteira OAS por meio da reserva e reforma de um apartamento tríplex em Guarujá.
Uma eventual ordem de prisão do ex-presidente não sairia agora. Conforme entendimento do STF, é possível mandar prender um réu condenado em segunda instância, mas Lula ainda poderia apresentar recursos.
Se o placar do julgamento for de 2 a 1 pela condenação, aumentam as chances de recursos do réu, e outros juízes da corte serão chamados para avaliar o caso.
A defesa nega as acusações, diz que Lula apenas visitou o imóvel em uma ocasião e sustenta que o apartamento segue vinculado à OAS.
Apoiadores de Lula afirmam que o julgamento é uma manobra para tirá-lo da eleição e questionam o fato de o caso ter passado à frente de outras sete ações penais da Lava Jato que chegaram anteriormente ao tribunal.
O histórico de decisões dos três juízes do TRF é amplamente desfavorável às pretensões de absolvição do ex-presidente. Além do relator, João Pedro Gebran, seus colegas Victor Laus e Leandro Paulsen costumam manter as decisões de primeira instância expedidas por Moro e em vários casos já chegaram a ampliar as penas.
TENSÃO
O dia do julgamento também é o auge da mobilização política iniciada por Lula. O temor de confrontos levou as autoridades a preparar um amplo esquema de segurança, com isolamento do tribunal e patrulhamento terrestre, naval e aéreo.
Atiradores de elite estarão posicionados em pontos estratégicos. Também foram instaladas 150 câmeras na região. O espaço aéreo do tribunal estará bloqueado.
Com informações da Folhapress