Justiça determina reconstituição de chacina em Conde e retira sigilo do processo
A decisão foi tomada pela juíza Lessandra Nara Torres Silva, da Vara de Conde, que também autorizou a quebra do sigilo processual do caso
A Justiça da Paraíba determinou a realização da reconstituição da chamada chacina de Conde, episódio em que cinco jovens foram mortos na madrugada do dia 15 de fevereiro deste ano, na Ponte dos Arcos, que liga João Pessoa ao município de Conde. A decisão foi tomada pela juíza Lessandra Nara Torres Silva, da Vara de Conde, que também autorizou a quebra do sigilo processual do caso.
O pedido foi feito pelo Ministério Público da Paraíba (MPPB), que apontou inconsistências nos depoimentos dos policiais militares envolvidos. O órgão destacou que houve fragilidades nos relatos, além da retirada dos veículos e remoção dos corpos do local antes da chegada da perícia oficial, o que comprometeu a análise da cena do crime.
Contradições entre versões
De acordo com os policiais investigados — um soldado, um cabo, um tenente e três sargentos —, a ação teria ocorrido após dois veículos desobedecerem a ordem de parada em um bloqueio policial e um disparo ter sido feito de dentro de um dos carros. Segundo os militares, houve então uma troca de tiros, resultando na morte dos cinco jovens, que foram levados ainda com vida para o Hospital de Trauma de João Pessoa, mas não resistiram.
Entretanto, o laudo da Polícia Científica aponta para outra conclusão. As perícias revelaram que os disparos partiram de fora para dentro dos veículos — um deles com 74 perfurações e outro com 19. Além disso, todos os jovens apresentavam ferimentos de arma de fogo na cabeça, com trajetória descendente, indicando características de execução e não de confronto.
As vítimas foram identificadas como Cristiano Lucas da Silva, Alexandre Bernardo de Brito, Emerson Almeida de Oliveira, Fábio Pereira da Silva e Gabriel de Souza Ferreira.
Prisões e defesa dos policiais
Em fevereiro, a juíza já havia decretado a prisão preventiva dos seis policiais. Cinco deles foram localizados e estão detidos no 1º Batalhão da Polícia Militar, em João Pessoa. O sexto, um tenente, estava em férias nos Estados Unidos no momento da decisão judicial, mas a defesa informou que ele prepara o retorno ao Brasil para responder ao processo.
O advogado dos militares, Luís Pereira do Nascimento Júnior, afirmou em nota que os policiais estão colaborando com as investigações e que não há provas de fraude ou execução. Segundo ele, as prisões temporárias têm caráter apenas investigativo e não configuram culpa.
Próximos passos
A data da reconstituição ainda não foi definida. O procedimento deverá contar com a presença dos policiais investigados, da Polícia Científica e de representantes do Ministério Público, com o objetivo de esclarecer a dinâmica dos fatos.
Enquanto isso, familiares das vítimas seguem cobrando justiça e questionando a versão apresentada pelos militares. O caso continua em investigação.



