TV Tambaú
Jovem Pan
Nova Brasil Maceió
º
Crime ambiental

Esgotos clandestinos poluem praias e ameaçam saúde e turismo na Paraíba

Reportagem do Portal T5 conversou com especialistas sobre os danos da deterioração da balneabilidade das praias paraibanas

Por Juliana Alves Publicado em
Turismo orla foto gilbertofirmino 96
Orla da Paraíba é ameaçada por esgotos clandestinos (Foto: Reprodução/Secom-JP)

João Pessoa está com frequência entre os destinos mais procurados por turistas no Brasil. Um dos motivos, sem dúvidas, são as atrativas praias da cidade. Mas um recente relatório de balneabilidade da Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema) lançou luz sobre uma realidade preocupante na orla pessoense: somente cinco dos 20 trechos de praias monitorados na capital paraibana estão próprios para banho de mar. O motivo é a concentração de bactérias na água, causada pela presença de esgoto no mar.

Operacao Praia Limpa Sergio Lucena
Esgotos clandestinos poluem orla de João Pessoa (Foto: Reprodução/Secom-JP)

Em entrevista ao Portal T5, o superintendente da Sudema, Marcelo Cavalcanti, disse que os esgotos que contaminam as praias do Litoral paraibano estão sendo lançados de forma clandestina, sem tratamento, em galerias pluviais (que captam água da chuva). E, por parte das autoridades, ainda falta o principal: identificar quem está lançando os esgotos.

Para mudar esse cenário, a Sudema está adquirindo um equipamento que vai ajudar a mapear e identificar em que locais estão sendo feitos os lançamentos de esgoto. De acordo com segundo o superintendente do órgão, essa ação está em fase licitatória e deve ser colocada em prática em até 60 dias. “A partir daí nós vamos tomar as providências que são necessárias”, disse Marcelo Cavalcanti.

Marcelo cavalcanti sudema
Marcelo Cavalcanti, superintendente da Sudema (Foto: Reprodução/Secom-PB)

De onde vem o esgoto?

Questionado pela reportagem, o superintendente da Sudema afirmou que uma análise superficial sugeriu que grande parte dos lançamentos de esgoto clandestino nas praias paraibanas é feito por prédios comerciais, como hoteis e restaurantes. E explica: “durante a pandemia [de Covid-19], a gente entende que a frequência das pessoas estava muito intensa nas residências, e nesse período houve em alguns pontos a diminuição da contaminação. Assim, provavelmente, esses lançamentos estavam sendo feitos por prédios comerciais, já que eles estavam fechados [por determinação das autoridades]”.

Procuradas, a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis na Paraíba (ABIH-PB) e a Associação dos Microempresários da Orla Marítima de João Pessoa (Ameomar) não retornaram nosso contato até a publicação desta matéria.

Orla de JP oab
Orla de João Pessoa, na Paraíba (Foto: Reprodução/OAB-PB)

Onda de riscos

O lançamento de esgoto no mar tem impactos ambientais e socioeconômicos severos. Especialistas ouvidos pelo Portal T5 alertaram para os perigos da deterioração da balneabilidade das praias paraibanas.

Conforme explica a professora de Gestão Ambiental do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), Mirella Motta e Costa, a poluição decorrente de esgotos compromete a biodiversidade do mar. “O esgoto tem muitos compostos orgânicos que ficam suspensos na água e geram nutrientes que promovem a eutrofização. Esse processo é caracterizado pela proliferação exagerada de algas por conta do excesso de nutrientes, nitrogênio e fósforo principalmente. Então essas algas impedem a penetração do sol na água e, com isso, também é reduzido o nível de oxigênio no ambiente aquático, causando a mortandade de peixes e de outras criaturas marinhas que são sensíveis à ausência do oxigênio”, afirmou a professora.

Esse e outros danos ambientais podem ser irreparáveis. Para o professor do Departamento de Sistemática e Ecologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Bráulio Almeida, a longo prazo, a tendência é de empobrecimento de todo o ambiente marinho, que pode prejudicar também as atividades de pesca e turismo realizadas no mar. “No caso da Região Metropolitana de João Pessoa, não há patrimônio maior do que praias urbanas balneáveis. Já imaginou o prejuízo socioeconômico se (ou quando) nossas lindas praias se tornarem permanentemente impróprias para o banho?”, indagou ele.

Praia secom ce
Banhistas estão expostos a doenças e infecções em mares contaminados (Foto: Reprodução/Secom-CE)
  • Saúde

De acordo com o site da Sudema, os banhistas que têm contato com a água do mar contaminada podem estar expostos a bactérias, vírus e protozoários. Crianças e idosos, ou pessoas com baixa resistência, são as mais suscetíveis a desenvolver doenças ou infecções após terem se banhado em águas contaminadas.

As doenças em geral não são graves, mas podem apresentar uma grande variedade de formas. Os sintomas mais comuns são: enjoo, vômitos, dores de estômago, diarreia, dor de cabeça e febre. Outras doenças menos graves incluem infecções de olhos, ouvidos, nariz e garganta, em locais muito contaminados os banhistas podem estar expostos a doenças mais graves, como disenteria, hepatite A, cólera e febre tifoide.

Proibido nadar sorocaba
Placas informativas devem alertar banhistas (Foto: Reprodução/Sorocaba-SP)

Falta divulgação

Os relatórios de balneabilidade das praias paraibanas são divulgados periodicamente no site da Sudema. No entanto, a falta de recursos acessíveis e eficientes com essas informações deixa a população e os turistas que frequentam o Litoral expostos aos riscos.

Os especialistas ouvidos pelo T5 afirmam que é preciso melhorar a comunicação e a sinalização para orientar os banhistas sobre a qualidade das águas das praias. Para Mirella, faltam estratégias mais modernas, como alertas em aplicativos de celular. Questionada, a Sudema disse que os trechos impróprios para banho de mar eram identificados com placas informativas na Paraíba. Mas essa divulgação foi suspensa após episódios de furto do material.

Para o professor Bráulio Almeida, a divulgação das informações sobre a balneabilidade vai muito além de influenciar a decisão individual de entrar ou não no mar. “Expor o problema ajuda a sensibilizar a sociedade para o fato de que cuidar da balneabilidade de nossas praias é urgente e requer decisões individuais e coletivas”.


Relacionadas