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Manayra e Miramar: como é ter o mesmo nome que um bairro de João Pessoa?

Reportagem do Portal T5 revela como a história da capital é contada não apenas por seus nomes, mas também pela identidade de seus habitantes

Por Carlos Rocha Publicado em
Miramar Amaral (à esquerda) e Manayra Barreto (à direita) moradoras da capital paraibana
Miramar Amaral (à esquerda) e Manayra Barreto (à direita) moradoras da capital paraibana (Foto: Reprodução/ Arquivo Pessoal)

João Pessoa nem sempre foi chamada assim. Fundada em 5 de agosto de 1585 e completando, neste sábado (5), 438 anos, a capital paraibana já se chamou Nossa Senhora das Neves, Filipeia, Frederica e Paraíba. Esses nomes guardam a história da cidade que, apesar de antiga, viu o seu desenvolvimento avançar e se modernizar a partir do século XX.

Assim como os nomes de João Pessoa guardam um pouco de sua história, a identidade da sua população faz o mesmo. É assim com duas pernambucanas que escolheram a capital paraibana como lar. Elas se chamam Manayra e Miramar, nomes de dois importantes bairros da capital. Juntamente com seus nomes, muita história para contar e, ao mesmo tempo, o amor pela cidade personificado. Confira no vídeo acima.

Miramar Amaral é pernambucana e contou ao Portal T5 que recebeu esse nome do pai. Ela ressaltou que o homem é extremamente criativo e caprichou na escolha dos nomes dos filhos. Ainda em Pernambuco, mal sabia ela que se mudaria, após o casamento, para um lugar no qual se apaixonaria e que esse lugar teria um bairro com o seu nome.

Apesar de se chamar Miramar, a personagem da nossa história mora no bairro de Mangabeira, um dos mais populosos da capital. Muitas são as histórias por trás do nome de Miramar, e uma das mais curiosas é que seu apelido de infância era "perninha de muriçoca". O apelido foi dado pelo pai em tom de bom humor. Ela contou que não sabia que, ao se mudar para a Paraíba, iria se deparar com o maior bloco de arrasto do pré-carnaval do Brasil, o Muriçocas do Miramar, que nasceu no bairro que leva o seu nome. ela considerou uma grande coincidência.

Miramar também contou que é alvo de muitas brincadeiras durante o dia a dia e já chegou a ser questionada se os nomes das filhas dela eram Tambaú e Cabo Branco, por exemplo. Em meio a muitas histórias, ela contou que, durante o trabalho no Detran da Paraíba, que funcionava no bairro de Jaguaribe, em João Pessoa, atendeu uma ligação. Do outro lado da linha, a pessoa queria resolver um problema relacionado a um emplacamento de um veículo e perguntou com quem falava. Prontamente, a funcionária respondeu "você fala com Miramar". Logo em seguida, o cliente exclamou "eu liguei para o Detran de Jaguaribe e não o de Miramar" e desligou.

Brincadeiras à parte, Miramar adotou João Pessoa como lar e tem muito orgulho disso. Na capital paraibana ela fez família, criou filhos e agora netos, e espera que a cidade se desenvolva e seja cada dia mais feliz.

Miramar tem motivos para se orgulhar do próprio nome, pois o bairro está localizado em uma região que foi fundamental para a expansão da cidade em direção ao mar. Diferente de outras capitais do Nordeste, João Pessoa nasceu às margens do rio Sanhauá, lado oposto ao mar. Lá foi o berço da capital paraibana, que começou a se desenvolver por ali.

De acordo com a historiadora e professora universitária Ana Maria Leal, a cidade ficava restrita à região do centro, como Tambiá, Varadouro e Trincheiras. Foi logo após o processo de pavimentação da Avenida Epitácio Pessoa, ocorrido em meados de 1950, que os bairros começaram a avançar.

Segundo a professora, antes disso, a região da orla era pouco habitada, e os moradores da capital iam até esses locais com a intenção de veranear. Ana conta que até o próprio nome Miramar tem relação com a palavra "mirante" e a palavra "mar", ou seja, vista para o mar. Era um bairro que abria as portas de João Pessoa em direção à expansão para a orla marítima.

Além de abrir as portas para expansão, o bairro ganhou equipamentos importantes para o seu desenvolvimento, como a instalação do Esporte Clube Cabo Branco e também o Espaço Cultural José Lins do Rego. A partir de então, a expansão imobiliária do local não parou mais, abrindo realmente a porta para outros bairros, como o de Manaíra.

E por falar em Manaíra, o Portal T5 encontrou outra pernambucana que tem uma relação muito afinada com o bairro. Diferente da família de Miramar, que deu esse nome a ela sem saber da existência do bairro, foi justamente o bairro que levou uma madrinha a escolher o nome Manaíra para uma empresária que também adotou João Pessoa como lar.

Manayra Barreto contou que se chamaria Jéssica e tem esse nome registrado na pulseira da maternidade. Ao ouvir um anúncio de uma excursão para a praia de Manaíra, em João Pessoa, a madrinha dela resolveu sugerir o nome após verificar o significado.

Segundo a jovem, o nome significa "favo de mel" e os olhos claros lembram a cor do mel ajudou a arrematar a escolha. Manayra conta que, quando foi morar em João Pessoa, chegou a ouvir de muita gente algumas piadas e também testemunhou muita admiração das pessoas com o nome tão peculiar e diferente.

Toda essa peculiaridade envolve um dialeto indígena. Não há relatos científicos sobre, mas acredita-se que o bairro de Manaíra tenha ganhado esse nome como uma forma de relação com a cidade de Manaíra, que fica no sertão da Paraíba. O município recebeu esse nome graças a uma lenda.

De acordo com a lenda, Manaíra significa "seios de mel" e seria o nome de uma índia prometida por seu pai, chamado Boiassu, como noiva para o índio Piancó, chefe da tribo dos Coromas. Manaíra teria se envolvido amorosamente com o colonizador Manoel Curado Garra, e por conta disso, teria sido sacrificada pelo próprio pai em nome do compromisso que assumiu com o índio Piancó.

Tendo relação ou não com a lenda, o bairro de Manaíra é um dos mais nobres de João Pessoa e também fez parte do grupo de bairros que surgiu após a década de 1950. Antes disso, ele era habitado por vilas de pescadores e marisqueiras. Após o processo de urbanização, esse público migrou para a região do bairro São José.

Manaíra, através de um programa de incentivo à urbanização, começou a ser habitada pelo público de classe média alta da cidade. Após isso, se deu o processo de verticalização. Ele se tornou um dos bairros mais nobres da cidade e atrai muitos turistas.

A história de João Pessoa é contada não apenas por seus nomes, mas também pela identidade de seus habitantes, como Manayra e Miramar, que amam a cidade e desejam desenvolvimento, força e qualidade de vida para todos os seus moradores tanto hoje quanto nos próximos 438 anos.

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