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Saudade de carnaval: Bloco Cafuçu não desfila pelo segundo ano em João Pessoa

Agremiação é uma das mais irreverentes da cidade.

Por Cristiano Sacramento Publicado em
Agremiação enfrenta mais um ano com 'portas fechadas' em razão da pandemia
Agremiação enfrenta mais um ano com 'portas fechadas' em razão da pandemia (Imagem: Rafael Passos / PMJP)

Mais um ano sem brilho, colorido e animação. Mais um ano sem alegria, fantasia e irreverência. Mais um ano sem ruas lotadas. E nesta sexta-feira (25), pela segunda vez, as portas da felicidade - característica de um dos mais tradicionais blocos de carnaval de João Pessoa - estarão fechadas. São cerca de 730 dias sem pintar de animação o Centro da capital.

Ponto de Cem Reis, no Centro de João Pessoa, tomado por foliões | Foto: Reprodução / Instagram Bloco Cafuçu

Já não há também o riso e alegria de Corrinha. Rainha do Cafuçu e personalidade ilustre da cultura paraibana, a professora de história especializada na arte da alegria partiu em 2018 - antes da pandemia - deixando no ar a sensação de nostalgia.

Marcelina Morais, produtora do bloco Cafuçu, disse em entrevista ao Portal T5, que mais um ano sem ter carnaval representa, sobretudo à cultura, um processo doloroso repleto de vazio e saudade. Ela também ressalta a importância de seguir as determinações das autoridades responsáveis.

"Estamos obedecendo as regras sanitárias. Realmente é o momento de parar e refletir. Temos conversado com os outros blocos para saber como será essa retomada. O carnaval é um seguimento da cultura, e a cultura de, modo geral, está sofrendo com a falta de amparo por parte do poder público", iniciou.

A produtora também destacou que é plausível a paralisação não só das festas públicas, como as privadas também. "Esperamos que essas festas privadas não tenham a submissão por parte dos órgãos públicos. Temos visto que festas fechadas atraem muitas pessoas. Esse, definitivamente, não é o momento, ainda".

A irreverência

Cafuçu é todo aquele que se veste com extravagância, usa perfumes baratos e fortes, fala alto e errado. No dicionário brasileiro, o que não faltam são definições.

Os trajes exagerados são características da festa | Foto: Reprodução / Instagram Bloco Cafuçu

No Nordeste, o termo é ligado a uma pessoa que dispõe-se de gírias informais, uma pessoa brega, sem classe. Fisicamente pode se referir a alguém de feições grosseiras, no popular, aquela pessoa 'feia' ou 'desarrumada'. A palavra é usada principalmente para definir de mal gosto, muitas vezes de origem pobre.

Quanto mais adereço, melhor | Foto: Reprodução / Instagram do Bloco Cafuçu

"Todos nós temos um pouco de Cafuçu. E, como instituição estamos nos reinventando. O fato de não ter carnaval também nos permitiu investir e apostar em outras áreas, outros seguimentos e atividades. Em 2021, por exemplo, fizemos uma mostra educativa de cinema. Foi parte de uma contrapartida do bloco aos incentivos por parte da lei Rouanet. Realizamos uma programação de três dinas de cinema, com parceria com escolas e atraímos foliões também".

Ampliação do Cafuçu e ligação com o centro histórico

A produtora revelou que além de uma agremiação de carnaval, o Cafuçu trabalha para se tornar referência em atividades e ações sociais.

"O carnaval, pra nós, é um ato político. Temos algo muito importante no centro histórico. É o berço da nossa cidade, que nasceu no Centro e cresceu em direção ao mar. E é por isso mesmo que esse resgate à nossa história está fundamentada na ideia de reunir milhares de pessoas para celebrar a alegria no coração da capital paraibana", disse.

Bloco Cafuçu se denomina como expressão política de resistência e exaltação ao centro da capital | Foto: Reprodução / Instagram Bloco Cafuçu

"Somos a única festa que leva um público imenso ao centro histórico. A região tradicionalmente ocupada por bares e empreendimentos se transforma. E justamente em razão do local não ter uma programação pujante, viramos nossos olhos pra lá. Sabemos que a região passou a integrar um roteiro com atrativos turísticos organizados pela prefeitura. E por isso, a realização do Cafuçu nas três passas, reunindo cerca de 100 mil pessoa, segundo a estimativa, é peça fundamental na entrega de vida e alegria aqueles lugares", completou.

"O Cafuçu aparece como ato de ocupação geográfica. Mantemos um carnaval tradicional, com orquestras, blocos de arrasto e muita tradição".

O sentimento de ter o carnaval cancelado

Em 2022, toda programação das festas de rua e particulares do carnaval de João Pessoa foram canceladas pela prefeitura. A terceira onda de Covid-19 tem causado preocupação, em razão da alta procura pelas unidades de saúde da capital.

Desta forma, resta esperar, aguardar dias melhores para que só assim - com segurança - a felicidade faça morada e vá brincar o carnaval.

"É no Cafuçu onde muita gente revela sua melhor versão. Com direito a extravagância, aquelas ruas de nutrem de um colorido lindo. É lindo ver famílias inteiras chegando bem cedo, fantasiadas, levando cadeiras, para aproveitar. e pessoas que chegam mais cedo, brincar, fantasias".

"Estamos com muita saudade. Em breve voltaremos", finalizou.

Animação, muitos adereços e até cuscuz não podem faltar para uma boa cafuçu | Foto: Reprodução / Bloco Cafuçu


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