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Viúva de Jackson do Pandeiro relembra vida, obra e influência do artista na música brasileira

Às vésperas de completar 77 anos, Neuza Flores conversou com o Portal T5 sobre o período que conviveu com o músico e as dificuldades enfrentadas após a morte do paraibano.

Por Redação Publicado em
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Jackson do pandeiro cantor, compositor e instrumentista Jackson do Pandeiro, cantor, compositor e instrumentista paraibano. Foto: FolhaPress

INFLUÊNCIA NA MÚSICA BRASILEIRA 

Sem filhos por causa da esterilidade, Jackson deixou incontáveis herdeiros na musicalidade ao longo dos anos. A influência do Rei do Ritmo na trajetória de outros ícones nacionais traduz a capacidade do artista em interferir na formação de novos artistas. O professor de Música Popular e Acordeão da Universidade Federal da Paraíba, Hélio Giovani, relembra a importância do centenário nessa realidade. "Jackson é, sem dúvidas, uma das maiores inspirações de toda geração artístico-musical posterior a ele. É influência na música de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Novos Baianos, Lenine e Chico César", afirma.

Reconhecendo a habilidade de Jackson em contribuir com maestria na valorização do ritmo nordestino, ainda que misturando o coco com o samba carioca, o professor acrescenta: "Ele trouxe uma forma nova de cantar as melodias, cheio de síncopes e contratempos, como ele mesmo gostava de chamar de ‘remandiola’", ressalta.

Hélio Giovani aponta também as características que distinguem a carreira de três pilares da música nordestina, a partir do século XX, composto por Luiz Gonzaga, Dominguinhos e Jackson do Pandeiro. "Há muitos fatores que podem influenciar na visibilidade de cada artista, no acesso ao público e a permanência na lembrança das pessoas", explica. "Dominguinhos esteve vivo e atuante no cenário musical brasileiro até final de 2012. Ele é um ‘herdeiro musical’ de Luiz Gonzaga. Acredito que, por essa razão, a música do Rei do Baião tenha sido, de certa forma, mais difundida pós morte. Além disso, Gonzaga sempre foi mais ligado ao marketing do seu próprio trabalho e, dessa forma, perdura mais na crista do sucesso do que Jackson", pontua.

Foto: Divulgação/Maria Sem Vergonha

MULHERES NO PANDEIRO

O trio Maria Sem Vergonha, formado em maio de 2018, retrata que também há mulheres no cenário musical historicamente composto por homens. Através das suas vozes e composições, Katiusca Lamara, Carol Benigno e Nívea Maria reivindicam e exercem a representatividade feminina contribuindo para a ressignificação do forró nordestino.

As canções do Rei do Ritmo fazem parte do repertório dos shows e refletem a grandiosidade do artista capaz de inspirar a carreira de jovens iniciantes, mesmo após um século de existência.

"Ele é um artista fundamental no desenvolvimento da minha musicalidade. Para um músico, ele é uma grande biblioteca porque a sua forma de cantar, a criatividade musical, arranjos, letras e instrumentação, servem de referência para quem faz e estuda música. Entrar em contato com as obras de Jackson é conhecer boa parte dos ritmos e musicalidade nordestina", afirmou a percussionista do grupo, Katiusca Lamara.

"Além disso, ele exprime a realidade cultural nordestina e seus contextos de forma descontraída, com uma maneira de cantar única e que, até hoje, estão presentes nos trabalhos dos novos artistas que o tem como inspiração", acrescentou Nívea Maria, flautista do conjunto Maria Sem Vergonha.

Para o trio, o artista se tornou influência direta fruto da capacidade de carregar as dores e as delícias do Nordeste. "Jackson representa uma escola para a música nordestina. Ele também deu visibilidade a muitos ritmos regionais e isso chega até nós como herança cultural. As músicas dele refletem diretamente na minha estética sonora. A habilidade dele ajuda a me entender e me reinventar. Sua obra é como uma estrela-guia, a partir da qual, construímos o nosso som", ressaltou a sanfoneira do trio, Carol Benigno.


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