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Pesquisadores desenvolvem anticorpo que reativa o sistema imunológico contra o câncer de pâncreas

O estudo combinou dados clínicos de pacientes humanos, ensaios em laboratório com células humanas e testes em camundongos, para validar a eficácia do tratamento em organismos vivos

Por Carlos Rocha Publicado em
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Pesquisadores desenvolvem anticorpo que reativa o sistema imunológico contra o câncer de pâncreas

Pesquisadores da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, desenvolveram um anticorpo inovador que pode ajudar no tratamento do câncer de pâncreas, um dos tipos mais agressivos e letais da doença.

O estudo combinou dados clínicos de pacientes humanos, ensaios em laboratório com células humanas e testes em camundongos, para validar a eficácia do tratamento em organismos vivos.

Segundo o médico oncologista Felipe Coimbra, líder do Centro de Referência em Tumores do Aparelho Digestivo Alto do A.C.Camargo Cancer Center, o câncer de pâncreas é particularmente desafiador por crescer de forma silenciosa, dificultando o diagnóstico precoce.

Os cientistas identificaram uma proteína chamada Siglec-10 presente em células de defesa dentro dos tumores pancreáticos. Essa proteína se liga a outra, a Integrina α3β1, encontrada na superfície das células cancerígenas. Essa ligação “engana” o sistema imunológico, fazendo com que as células de defesa parem de atacar o tumor.

Ao bloquear essa interação com um anticorpo desenvolvido especificamente para isso, os pesquisadores conseguiram reativar o sistema imunológico, que voltou a reconhecer e destruir as células do câncer com eficácia.

O líder da pesquisa, imunologista Mohamed Abdel-Mohsen, destacou que a descoberta revela como o mesmo mecanismo que ajuda o câncer a se espalhar também o protege do sistema imunológico.

“Ao remover esse sinal de ‘não ataque’, conseguimos reativar as células de defesa e fortalecer todo o sistema imunológico”, explicou o cientista.

Mesmo com detecção precoce, o tratamento do câncer de pâncreas enfrenta obstáculos. O órgão está localizado em uma região profunda do abdome, próxima a vasos sanguíneos, nervos e outras estruturas, o que favorece a invasão precoce do tumor. Além disso, mutações genéticas são observadas em mais de 90% dos casos, e o tumor cria um ambiente hostil, com tecido fibroso que limita a penetração de células de defesa e reduz a eficácia dos medicamentos.

Abdel-Mohsen afirmou que a equipe trabalha agora para levar a nova imunoterapia à fase clínica.

“Nosso plano é concluir testes adicionais em laboratório, garantir a produção do anticorpo em qualidade clínica e iniciar discussões com órgãos reguladores para os primeiros estudos em humanos”, disse o pesquisador.

O tratamento do câncer de pâncreas é definido a partir do estágio da doença, das condições do paciente e das características do tumor. Quando diagnosticado precocemente, a cirurgia combinada com quimioterapia é a principal chance de cura. Em casos avançados, quimioterapia e radioterapia permanecem como as principais abordagens, embora novas imunoterapias e terapias-alvo estejam em desenvolvimento.

A próxima etapa do estudo deve investigar a combinação do novo anticorpo com tratamentos já existentes, como quimioterapia e outras imunoterapias.

“Essa estratégia pode gerar uma resposta mais robusta do que qualquer tratamento isolado”, afirmou Abdel-Mohsen.

Coimbra ressalta que o diagnóstico tardio ainda é um dos principais desafios. Nos estágios iniciais, os sintomas são sutis ou inexistentes — desconforto abdominal leve ou perda de apetite raramente motivam investigação. Quando surgem sinais como icterícia, dor nas costas ou perda de peso inexplicável, a doença costuma já estar em fase avançada.



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