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Brasileiros ganham R$ 2.100 para buscar pedofilia e incentivo a automutilação no Roblox

O serviço lida diariamente com conteúdo de alta sensibilidade, o que demanda "aptidão para lidar com conteúdos sensíveis" e alta produtividade – o tempo de referência para a revisão de cada conta é de 15 minutos

Por Carlos Rocha Publicado em
Criança e computador
Brasileiros ganham R$ 2.100 para buscar pedofilia e incentivo a automutilação no Roblox (Foto: Reprodução/ Freepik)

A difícil e desgastante tarefa de combater crimes graves como pedofilia, pornografia infantil e incentivo à automutilação dentro da plataforma de games Roblox é desempenhada por uma equipe de moderadores brasileiros em São Paulo. O custo dessa mão de obra para a multinacional Concentrix é de um piso salarial de R$ 2.100 mensais, um valor que expõe uma abissal disparidade de mercado.

Enquanto funcionários em um prédio comercial na Barra Funda (SP) se dedicam a analisar minuciosamente mensagens suspeitas de usuários do Roblox, um universo vasto e popular entre crianças e adolescentes, o salário mínimo para a mesma jornada na Califórnia, onde o Roblox e a empresa estão sediadas, supera os R$ 15 mil mensais.

A operação, terceirizada, atua como um pente-fino 24 horas em contas sinalizadas por filtros de inteligência artificial. As vagas, que exigem proficiência em ao menos um idioma estrangeiro (inglês ou espanhol), demonstram a abrangência global da moderação, com relatos de leitura de diálogos até em alemão.

O serviço lida diariamente com conteúdo de alta sensibilidade, o que demanda "aptidão para lidar com conteúdos sensíveis" e alta produtividade – o tempo de referência para a revisão de cada conta é de 15 minutos. Ex-funcionários ouvidos pela Folhapress optaram por manter o anonimato devido a rigorosos acordos de confidencialidade.

Tanto o Roblox quanto a Concentrix se recusaram a comentar as informações da reportagem, alegando, no caso da terceirizada, o sigilo contratual.

Os moderadores estão na linha de frente contra a tática conhecida como “pesca”, onde aliciadores tentam seduzir e migrar a vítima do Roblox – onde há supervisão – para aplicativos de mensagens privadas como WhatsApp e Discord, livres de filtros. A comunicação suspeita exige atenção extrema, pois muitas vezes está cifrada em emojis ou escondida nas roupas customizadas dos avatares.

No fluxo de trabalho, os moderadores do Brasil que comprovam uma violação grave não acionam diretamente autoridades brasileiras. O protocolo exige que o caso seja repassado ao NCMEC (National Center For Missing & Exploited Children), uma entidade criada pelo Congresso dos EUA, que conduz uma nova investigação independente antes de registrar uma denúncia oficial.

Apesar dos riscos de estresse pós-traumático inerentes ao trabalho, essas empresas mantêm psicólogos de prontidão, mas o atendimento no Brasil é feito por profissionais estrangeiros.

Com a entrada em vigor do ECA Digital no próximo mês de março, que passará a exigir equipes de moderação e relatórios de atividade de jogos online à ANPD (Autoridade Nacional de Proteção de Dados), a demanda por este tipo de serviço deve crescer no país, potencialmente ampliando a atuação dessas empresas.



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