Ceratocone é principal motivo que leva pacientes à fila por transplante de córnea no Brasil
Doença deforma a córnea, altera o foco da visão e pode levar à necessidade de transplante em casos avançados
O Dia Mundial do Ceratocone, celebrado nesta segunda-feira (10), tem o objetivo de alertar a população sobre essa doença ocular que afeta a córnea, camada transparente localizada na parte frontal do olho. A condição torna a córnea mais fina e irregular, fazendo com que se projete para frente e adquira o formato de um cone, o que compromete a qualidade da visão.
De acordo com a oftalmologista Camila Moraes, “a deformação causada pelo Ceratocone prejudica a entrada e o foco da luz pelo olho e pode resultar em miopia e astigmatismo irregular. Além disso, os graus mudam com frequência e os óculos podem deixar de corrigir adequadamente a visão, devido ao tipo peculiar do astigmatismo”.
Nos estágios iniciais, a doença pode ser silenciosa, mas apresenta sinais de alerta que merecem atenção. Entre eles estão a troca constante de óculos por mudança de grau, visão embaçada ou distorcida, especialmente à noite, sensibilidade à luz (fotofobia), visão dupla e percepção de halos luminosos ao redor das luzes.
A médica explica que há influência genética associada ao Ceratocone, mas o principal fator de risco é o hábito de coçar os olhos. “Ao coçar os olhos, o indivíduo estimula o remodelamento prejudicial das fibras de colágeno da córnea, causando deformidades. Entre os fatores ambientais, a alergia ocular é um dos mais preocupantes, pois leva a pessoa a coçar os olhos com frequência”, afirmou.
Outras condições relacionadas ao surgimento da doença são a Síndrome de Down, dermatite atópica e doenças do colágeno. Segundo o Ministério da Saúde, o Ceratocone é o principal motivo que leva pacientes à fila por transplante de córnea no Brasil. A doença geralmente aparece entre os 10 e 25 anos, e cerca de 150 mil brasileiros recebem o diagnóstico a cada ano.
A progressão do Ceratocone varia conforme o paciente. “Em alguns casos, o Ceratocone avança por anos e depois estabiliza espontaneamente. Em outros, pode evoluir rapidamente se não for tratado. Mas, em geral, a progressão acelerada é mais comum na infância, com tendência à estabilização na vida adulta”, destacou a especialista.
Os tratamentos variam conforme o estágio da doença. Nos casos leves, os óculos podem ser suficientes. Em situações moderadas a avançadas, são utilizadas lentes de contato rígidas ou o implante de anéis intracorneanos, que ajudam a regularizar o formato da córnea. Quando há progressão da doença, o procedimento de crosslinking corneano é indicado para estabilizar o quadro. Já nos casos graves, o transplante de córnea, especialmente o do tipo DALK, é a alternativa mais recomendada.
A oftalmologista reforça que o Ceratocone não tem cura, mas pode ser controlado com acompanhamento médico regular. Evitar coçar os olhos, tratar alergias e realizar exames oftalmológicos periódicos, desde a infância, são medidas essenciais para prevenir complicações e garantir o diagnóstico precoce.



