PT: figuração ou protagonismo?
O MDB do senador Veneziano Vital do Rego e do prefeito Cícero Lucena jogou bem ao oferecer ao PT uma vaga de candidatura ao Senado e abrir perspectiva para discussão sobre programa de governo. É o fato novo mais relevante do processo de composição de alianças para 2026 depois da decisão do deputado Adriano de continuar na aliança da situação. A posição do PT está na meia dúzia de dilemas mais importantes ainda sem solução.
Jogou bem porque se antecipou e apresentou uma proposta concreta de aliança. Entrou pelo flanco aberto pela inércia da aliança liderada pelo governador João Azevedo que aguarda parado na confiança de que o PT vai reconhecer seu apoio nas eleições de 2022, mesmo não tendo reciprocidade à época, e no aguardo de um desfecho para a disputa em torno do controle da Federação União Progressistas (outro dilema). O deputado Aguinaldo Ribeiro ainda acredita que, no governo, Lucas terá o controle da federação e licença para anunciar apoio a Lula. Mas pode ser tarde.
Em favor do MDB, é possível que alguns segmentos do PT também se animem com a ideia de poder discutir um programa de governo.
Pesa ainda, favoravelmente ao MDB, nesse processo de despejar mesuras, galantear e cortejar o PT, a relação que o senador Veneziano Vital do Rego construiu com o partido e com o governo nos últimos anos. É um dos parlamentares mais fiéis a Lula. O prefeito Cícero Lucena sempre foi econômico em afetos ao PT e a Lula. Tinha um motivo, que era o então desafeto Ricardo Coutinho. Agora, porém, tem interesse direto, necessidade de ampliar alianças, quase uma aprovação tácita de Coutinho e chega embalado com as cores do MDB.
Os movimentos de Veneziano e Cícero pavimentam o caminho para a conquista da aliança com o PT na Paraíba. Esse é o quadro que se desenha, mas ainda existem problemas de certa monta a serem enfrentados.
O primeiro deles é quebrar o elo de ligação do presidente Lula com o governador João Azevedo. Restariam resquícios de remorsos pelo fato de, em 2022, o palanque do PT na Paraíba, com Veneziano candidato a governador, ter feito dura oposição a João na Paraíba.
O PSB é outro óbice a ser vencido. Os socialistas são aliados do PT no plano nacional, inclusive com o vice-presidente Geraldo Alckmin, mas encontram petistas como adversários em solo paraibano.
As divergências internas no PT poderiam ser um obstáculo, mas não deve ser levado em consideração porque o que mais interessa ao MDB é a coligação formal, que rende tempo de televisão, vídeos de apoio de Lula e outras vantagens.
O maior problema de todos, contudo, deverá ser o da falta de quadros dentro do PT para ser lançado como candidato a senador. Os dois principais nomes - o ex-governador Ricardo Coutinho e o deputado Luis Couto -, certamente, devem declinar de possível convite.
Os dois têm bastante delineado na cabeça o projeto de disputar vagas na Câmara dos Deputados, além de questões políticas e ideológicas para composição de palanque.
Outro quadro de destaque, o ex-deputado Frei Anastácio está mais ligado a ala do PT aliada ao governador João Azevedo e também trabalha para ser candidato a federal. A deputada Cida Ramos, assim como o deputado Luciano Cartaxo, provavelmente não vão querer se aventurar.
Desse modo, a ideia de oferecer uma vaga de candidato ao Senado à princípio parece muito boa, mas pode entalar o debate interno. Na ausência de quadros em condições de disputa com os demais candidatos ao Senado, restará ao PT entrar apenas para compor a chapa, fazer figuração. Nada impossível, se a ordem for simplesmente montar palanque para Lula, mas, talvez, os padres do partido acabem resgatando o velho adágio de que até os santos desconfiam de esmola grande.
Há um anseio no PT da Paraíba de aproveitar as articulações para a campanha de 2026 para exercer protagonismo político no Estado. Pelo visto, porém, o sonho do protagonismo se apresenta bem difícil.
Ironia
Veja a ironia da política. O governador João Azevedo tem resistido como pode para evitar que o prefeito Cícero Lucena e aliados estabeleçam armadilha do palanque duplo: voto em Cicero para governador e João para senador. A avaliação é que essa ideia pode criar problemas graves para a campanha de Lucas Ribeiro. Pois o palanque duplo pode acabar sendo a decisão do PT: voto em Cícero e Veneziano em aliança com o MDB e em João Azevedo para senador. O governador vai aceitar?



