Cícero e a busca incessante pelo apoio do PT
Por que o prefeito Cícero Lucena quer tanto ganhar o apoio formal do PT para as eleições de 2026 ao ponto de já ter se reunido com o presidente nacional do partido, Edinho Silva; com a deputada Cida Ramos, presidente estadual da legenda, e ter jantado com ex-ministro José Dirceu, considerado um dos grandes comandantes do partido, a quem denominou de amigo, na semana passada, em Brasília?
Além de se esforçar nas articulações, Cícero manifesta seu desejo publicamente com declarações antecipadas de apoio ao presidente Lula para as próximas eleições.
Para aquilatar a mudança de postura, observe-se que na última eleição nacional, embora já tivesse recebido nas eleições municipais (no primeiro ou segundo turno) o apoio de grupos do PT atraídos pelo PSB, o prefeito pessoense não fez declarações de apoio a Lula. Era econômico inclusive em relação a ações de gestão, o que chegava a irritar setores locais do petismo.
Mas Cícero não é nenhum inexperiente em política e, certamente, enxerga razões necessárias para numa aliança com o PT e o apoio de Lula.
Sondar é sempre difícil, mas é possível conjecturar algumas das mais prováveis razões que estariam levando o prefeito Cícero Lucena a buscar, com certa insistência, uma aliança com o petismo.
É possível que Cícero esteja imaginando que se aliando ao PT passe a polarizar diretamente com a direita de Efraim Morais, deixando o vice-governador Lucas Ribeiro imprensado e isolado na perspectiva ideológica.
Pode-se imaginar que, com essa manobra, o prefeito pessoense avalie que afasta o governador João Azevedo do presidente Lula e do PT, tirando sua influência na faixa da esquerda local.
Há ainda a hipótese que o prefeito da Capital esteja tentando abrir mais amplamente as portas do governo Lula para suprir o prejuízo do fim da parceria de gestão com o governo do Estado.
Outra razão talvez decorra diretamente da necessidade de somar o tempo de televisão do PT na propaganda (próximo dos 2 minutos), que, com os tempos do MDB e PSD, resultaria em um dos maiores guias eleitorais da futura campanha, permitindo espaço para divulgação dos resultados da gestão em João Pessoa.
É de se supor ainda que o prefeito Cícero Lucena esteja acreditando verdadeiramente que a disputa nacional se inclinará decisivamente favorável à reeleição do presidente Lula, como indicam algumas consultorias do mercado, e que esse fato também seria decisivo na disputa local.
Não se pode olvidar ainda que o senador Veneziano Vital do Rego (MDB), um fiel aliado de Lula, esteja exercendo influência no processo, acreditando que o presidente Lula adotaria um único palanque na Paraíba, que seria o do MDB, e Cícero pode muito bem estar acreditando nessa hipótese.
Lógico que o apoio do presidente Lula numa campanha eleitoral em qualquer Estado nordestino é relevante. O apoio do PT igualmente. Mas não basta isso. Registre-se que a Paraíba tem um longo histórico de desencontros entre a força de Lula e o resultado das urnas para candidatos a governador. Cícero e aliados certamente têm consciência dos fatos.
Em 2002, o então PMDB perdeu a eleição estadual (Roberto Paulino) com apoio de Lula, embora o presidente tenha sido fartamente votado em todo Estado. A história se repetiu em 2006, 2010 e 2018 com candidaturas de Zé Maranhão, já ex-governador e senador; com a candidatura de Vital do Rego Filho em 2014 e a do senador Veneziano Vital do Rego em 2022. Todas essas candidaturas sem sucesso foram do MDB.
É verdade que Lula pouco se fez presente em atos de campanha no período abordado, mas teve presença farta com vídeos na propaganda eleitoral em todos os pleitos disputados pelo PMDB ou MDB desde 2002. Em 2022, já com ex-governador Ricardo Coutinho no PT e candidato a senador, a campanha de Veneziano foi inundada com vídeos de Lula, e, ainda assim, a transferência de votos só fez o senador chegar aos 17,16% da votação estadual. Lula obteve 48,43% no primeiro turno.
Existe outro elemento que parece essencial para que a participação do PT possa ser positiva numa campanha eleitoral. É a participação da militância. Sem isso, o apoio do PT não produz resultados políticos nem eleitorais. Em todas as últimas campanhas na Paraíba (governador e prefeito), o PT participa dividido e o histórico é de insucesso. E a tendência é que o PT entre na campanha de 2026 novamente dividido.
Diante desse quadro, apesar do vasto elenco de prós e contras, ainda resta efetivamente saber por que o prefeito Cícero Lucena quer tanto o apoio do PT. Talvez somente ele tenha a resposta. Talvez os reais motivos acabem na conta do insondável. Coisas da política. Da Paraíba.
