Cícero muda tom de discurso
O prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, parece estar adotando uma mudança significativa em seu plano de candidatura ao governo do Estado, especialmente no tom do discurso. Já ocorreu alguma mudança durante o anúncio de sua filiação ao MDB, nesta segunda-feira.
A mudança significativa diz respeito ao eixo do discurso de Cícero em relação ao seu projeto de candidatura e também à visão relativa ao Estado e ao plano de governo a ser apresentado.
Embora numa entrevista após o anúncio o prefeito tenha repetido a intenção de votar no governador João Azevedo para o Senado, no vídeo publicado sobre a filiação, Cícero abandona totalmente a linha política que vinha adotando desde o início do ano, mantida inclusive depois da desfiliação do Progressistas e do afastamento do grupo liderado pelo governador João Azevedo.
A novidade foi Cícero dizer que quer ser governador para “construir um Estado mais justo, mais humano, mais solidário e mais inclusivo”. Destaque para os termos entre aspas literalmente proferidos pelo prefeito.
Perceba-se que a candidatura não é mais para dar continuidade ao projeto de gestão e desenvolvimento implantado pelo governador João Azevedo, função para a qual Cícero se apresentava como o mais experiente e o único capaz de dar prosseguimento à atual gestão. Pois essa linha de discurso parece já ter ficado para trás.
Os vínculos da aliança com o governador João Azevedo, inaugurada nas eleições de 2020 com promessa de parceria para a Capital, pareciam tão arraigados que o prefeito Cícero Lucena vinha negando rompimento com o governador, discurso que, agora, filiado a um partido de oposição ao governo, será difícil sustentar.
Lógico que o novo discurso de Cícero, externado no ato de anúncio de filiação ao MDB, pode não significar uma mudança brusca e radical de pensamento em relação ao governador João Azevedo e sua gestão. Não significa que Cícero quebre, de uma hora para outra, a coerência de seu discurso nos últimos meses. Mas muda muito. Indica um ajuste em relação aos conceitos adotados pelo seus novos aliados sobre o governo (oposição) e, provavelmente, à percepção da inoportunidade de adotar o mesmo discurso de continuidade do candidato governista, o vice-governador Lucas Ribeiro. Dividir o mesmo discurso numa campanha para governador vai ser sempre complicado. E arriscado.
A nova fala é de hoje, mas não há como negar que o tom adotado por Cícero no ato do MDB abre perspectiva para uma campanha de oposição ao governo do Estado e ao modelo de gestão estabelecido nos últimos 7 anos. Resta aferir o tom dessa oposição.
Anote-se que a mudança no discurso do prefeito Cícero Lucena parece dialogar diretamente com reclamações dos próprios líderes emedebistas locais e do ex-deputado federal Pedro Cunha Lima (PSD), que avisou, outro dia, que ficaria de fora de qualquer projeto de continuidade governista. Nada mais natural, então, que, enquanto candidato em busca de apoios na oposição ao governo, o prefeito acene para os novos aliados e possíveis aliados.
Pondere-se como perfeitamente plausível que o prefeito Cícero Lucena não deve estar mudando o eixo de discurso sem uma boa reflexão. A equipe de marketing do prefeito tem se revelado, ao longo de suas campanhas, bastante eficiente. A conclusão talvez seja a que os resultados da gestão em João Pessoa, associada à longa trajetória e experiência política de Cícero, já sejam suficientes para a montagem de um bom discurso de campanha, sem radicalizar ou desprezar os feitos reconhecidos do atual governo e ações que estejam dando certo. A ideia talvez seja mostrar respeito, mas não demonstrar qualquer dependência do bom período de convivência.
Assim, é difícil supor que, a partir de agora, Cícero deverá adotar um discurso próprio em cima de um plano de governo com base em sua própria história política.
A verdade é que, com a filiação ao MDB, embora possa insistir algum tempo em tentar salvar parte da relação com o governador João Azevedo, flertando com a possibilidade de uma aliança eleitoral proscrita ou vencida (voto para o Senado), Cícero, já a partir de agora, deverá mudar também grande parte de seu discurso de campanha.



