O ousado movimento de Cícero para consolidar candidatura, isolar Lucas e polarizar com a direita

O prefeito Cícero Lucena parece ter retornado da peregrinação a Santiago de Compostela com disposição para avançar mais rapidamente articulações políticas visando consolidar sua candidatura a governador.

O encontro com o presidente nacional do PT, Edinho Silva, nesta quarta-feira, revela a gana de Cícero em relação ao projeto de candidatura e a pressa em definir posições e alianças. O evento, em Brasília, é o que, nos bastidores, se chamaria de “grande sacada” ou “jogada”.

A reunião com Edinho Silva teve objetivo puramente político. Nada de discussão sobre parceria administrativa entre a Prefeitura de João Pessoa e a União como anotado nos releases distribuídos. Edinho pode ter muito prestígio, mas não responde pelo governo.

A missão da viagem do prefeito Cícero Lucena a Brasília parece ter sido buscar diretamente o apoio do PT. É até possível que o senador Veneziano Vital do Rego (MDB) tenha, na semana passada, tentado uma audiência com o presidente Lula, que pode ter encaminhado o problema ao presidente do PT.

O que Cicero deseja e por que a pressa?

Não é difícil imaginar que o prefeito Cícero Lucena tem, na verdade, pressa para escolher seu novo partido político. Recebeu convites do senador Veneziano Vital do Rego para se filiar ao MDB. E por que ainda não aceitou o convite? Por duas razões principais. A primeira é que a filiação ao MDB pode estreitar seu arco de alianças. Se não conseguir o apoio do grupo Cunha Lima, ficaria apenas com o MDB e outras legendas de menor porte. A garantia de aliança com o PT daria tranquilidade até para perder o apoio de Cunha Lima.

A outra razão é que uma aliança de Cícero com o PT, ele filiado ao MDB, pode isolar a candidatura do vice-governador Lucas Ribeiro e reduzir a força da aliança do governador João Azevedo, além de poder gerar um quadro de polarização com direita bolsonarista na Paraíba, que deverá disputar o governo com a candidatura do senador Efraim Morais.

A estratégia é bem bolada e conta com um bom interlocutor em Brasília, que é o senador Veneziano Vital do Rego e que, embora tenha opções, ainda se encontra sem palanque no Estado.

Conta ainda com duas situações favoráveis no momento: a indefinição partidária do vice-governador Lucas Ribeiro, que espera resolução da Federação União Progressista, e o desgate público e da relação do presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos), com o governo Lula e o PT.

Do outro lado, o problema principal para os intentos de Cícero reside no governador João Azevedo e sua relação com o PT nacional. Não se fala abertamente, mas haveria uma dívida do PT para com o governador, reconhecida pelo próprio presidente Lula, em função das eleições de 2022. O governador João Azevedo sustentou firme apoio a Lula apesar de o PT ter armado um palanque (candidatura de Veneziano com Ricardo Coutinho) para lhe fazer oposição. Se o PT adota Cícero, isola novamente o aliado João Azevedo.

Talvez se alegue a histórica questão de divergência politico-ideológica e de relacionamento de Cícero com o ex-governador Ricardo Coutinho. Nesse ponto, talvez não haja mais óbice. Não é Ricardo que está invadindo o espaço de Cícero, que sempre se dizia vítima do petista. É Cícero que deseja se aproximar do PT. Além disso, pragmático, Ricardo não seria obstáculo a uma articulação que possa prejudicar diretamente o governador João Azevedo, seu principal desafeto na atualidade.

Outro possível senão a ser aventado por petistas ou adversários do prefeito Cícero Lucena para tentar prejudicar a articulação desejada pode ser sua econômica menção a Lula nos últimos anos. O rebate pode ser que o deputado Aguinaldo Ribeiro e o próprio Lucas Ribeiro também não são pródigos em elogios a Lula.

De qualquer forma, registre-se que o fato da vez é um ousado movimento do prefeito Cícero Lucena para consolidar seu projeto de candidatura ao governo do Estado. E não será nenhum absurdo que ele possa ter oferecido ou esteja sonhando com uma candidatura de unidade com todos seus últimos aliados construída pelo presidente Lula