João e Cícero revelam maturidade, mas não existe rompimento político amigável
O prefeito Cicero Lucena e o governador João Azevedo encerraram, nesta sexta-feira (05) uma aliança política que já durava 5 anos. Não era, portanto, das mais antigas, mas parecia sólida.
A aliança atravessou duas eleições vitoriosas de Cícero Lucena para prefeito de João Pessoa e uma derrota do governador João Azevedo nas urnas da Capital no pleito de 2022, com um resultado ruim (71.217 votos de maioria no segundo turno), embora a reeleição de João tenha sido assegurada por maciça vitória nos municípios do interior.
No rolo dos acontecimentos, o prefeito Cícero Lucena também encerra o relacionamento político com o deputado Aguinaldo Ribeiro, com sua desfiliação do Progressistas.
Os motivos para a separação política não estão nas alegações sustentadas em entrevistas.
Da parte do prefeito Cícero Lucena, o que se tem é que ele, com 68 anos, não encontrará ou dificilmente encontrará conjuntura tão favorável para aspirar disputar o governo do Estado com chances de vitória como a de agora.
Observe-se que há um processo de renovação geracional na Paraíba, onde não existe velhas lideranças na disputa, e os nomes que despontam contam entre 36 (Lucas Ribeiro) e 46 anos de idade (Efraim Filho), sem falar de Hugo Motta (36 anos) e Pedro Cunha Lima (37 anos).
São essas as circunstâncias conjunturais que empurraram o prefeito Cícero Lucena a tocar seu projeto pessoal de disputar o governo da Paraíba. É agora ou nunca, porque, com a ascensão de qualquer desses nomes das novas gerações, outra oportunidade como a atual não se vislumbra no horizonte.
Como na política brasileira não costuma haver amigos nem inimigos, o prefeito Cícero Lucena não teve dúvidas em se afastar dos aliados atuais e se aliar com a oposição (ou parte dela),onde estão antigos aliados.
O julgamento da atitude política vai depender da competência e eficácia das narrativas, uma delas o suposto favoritismo apontado por pesquisas, alegação que guarda fragilidade em função de serem inúmeros os casos de candidatos que começam mal nas pesquisas e se elegem.
Do outro lado, o governador João Azevedo fez valer um atributo de sua personalidade não política, que é o de sustentar compromissos. Desde que aceitou Lucas Ribeiro como vice-governador, não se registra uma única cogitação de João em não trata-lo como substituto, ainda mais no caso de ter que renunciar para ser candidato a senador. Além da lógica cartesiana (um tanto própria aos engenheiros), há uma razão política de fundo: João criaria muitas dificuldades para ser candidato a senador deixando no cargo um governador insatisfeito ou rompido politicamente. O governador João Azevedo agiu conforme a racionalidade e não conforme os políticos profissionais.
Mas não se pode deixar de registrar erros de condução. O prefeito Cicero Lucena ficou de fora das primeiras reuniões da cúpula da aliança, formada pelo governador e os deputados Aguinaldo Ribeiro (Progressistas) e Hugo Motta (Republicanos). Erro que persistiu após queixas de Cícero e se aprofundou após o mesmo se lançar candidato a governador e iniciar suas articulações políticas.
A verdade é que não houve esforços para demover ou conter Cícero de seu propósito de ser candidato a governador, ainda que os esforços pudessem resultar infrutíferos.
Maturidade
Um registro que precisa ser feito para a história é sobre a forma como o governador João Azevedo e o prefeito Cícero Lucena chegaram ao desenlace político neste sexta-feira (05/09). Sem ataques ou atritos públicos. O comum nos rompimentos políticos na Paraíba é a virulência nos ataques e acusações, quase sempre descambando para os confrontos pessoais. Talvez seja justo se anotar que, em 2010, embora com mágoas e queixas, o então senador Cícero Lucena e o governador Cássio Cunha Lima, já cassado, romperam ou se largaram politicamente sem muita estridência. Foi quando Cássio preteriu Cícero e adotou a candidatura de Ricardo Coutinho.
Confronto inevitável
Nada garante, porém, que a maturidade e aparente paz observada na foto sorridente de despedida dos dois, após rápida audiência na Granja Santana, não possa ser quebrada. E vai ser quebrada. Afinal, o que estará em jogo é o controle do poder político máximo do Estado. Talvez até um pouco mais. Uma derrota de Cícero pode significar o encerramento de sua carreira política em definitivo. Uma derrota de João resultará numa saída melancólica da política, com prejuízo para a história de suas gestões no Estada.
Com tanto em jogo, é plenamente previsível que, se não nas bocas de João e Cicero, mas nas vozes das tropas de campanha de ambos os lados, o clima cordial do momento se transforme em atroz confronto.
Será de se lamentar, mas não deve haver desavisado nessa história: em se tratando de disputa eleitoral pelo poder, não existe rompimento político amigável.
Parceria por João Pessoa
Um problema é como ficarão o discurso de parceria e as obras e projetos que efetivamente o Governo do Estado e Prefeitura estão tocando conjuntamente na Capital. Parceria essa que embalou as campanhas eleitorais de 2020 e 2024.
Sabendo-se da ausência de regras, limites e respeito nas campanhas eleitorais, não será nada imprudente se prever que a grande vítima dos acontecimentos políticos de agora será a parceria entre Governo e Prefeitura em favor de João Pessoa.
A maturidade política precisa funcionar neste ponto.



