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João e Cícero parecem apenas cumprindo um delicado jogo de faz de conta

Por Josival Pereira Publicado em
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João e Cícero parecem apenas cumprindo um delicado jogo de faz de conta (Foto: Arquivo/Divulgação)

Os espaços da política estão se tornando cada vez mais estreitos para acomodar o governador João Azevedo e o prefeito Cícero Lucena (João Pessoa).

Prova disso foram as saias justas experimentadas pelos dois na solenidade de lançamento do Word Beach Games, nesta segunda-feira, e a opção de se posicionarem em lados opostos no evento da posse do novo procurador-geral de Justiça, Leonardo Quintans, no Espaço Cultural. Cícero ao lado do senador Veneziano Vital do Rego e do prefeito Bruno Cunha Lima e João do outro lado, com aliados.

No caso do primeiro evento, a saia justa para o governador João Azevedo foi armada pela imprensa, cobrando opinião sobre andanças pre-eleitorais de Cícero com o senador Veneziano Vital do Rego (MDB) e declarações sobre mudança de partido. A saia justa para Cícero foi costurada pelo próprio governador, sugerindo que as perguntas fossem feitas diretamente ao prefeito, ali do lado.

A cena foi recheada de sorrisos, mas não deixou de ser constrangedora. Parte da imprensa interpretou o suposto bom humor como ‘saída de fininho’, do governador, ou seja, opção por um caminho tangencial, para ganhar tempo ou preservar apoios.

É uma interpretação pertinente, mas apenas para a leitura superficial daquele instante.

Uma leitura mais aprofundada da tonalidade de voz e da expressão facial vai indicar aborrecimento na reação do governador João Azevedo.

À primeira vista, haveria cansaço com a insistência da imprensa em apresenta-lo a questão sobre a situação do prefeito Cícero Lucena, certamente, ansiando por uma admoestação pública, uma reprovação, uma cobrança.

Apesar de ser plenamente perceptível que o governador tem feito largos esforços para não confrontar Cícero, não há como não associar seu visível aborrecimento também aos caminhos que o aliado tem trilhado para ser candidato a governador.

“Pergunte qual a chapa dele?”. O tom usado pelo governador no diálogo com a imprensa sob às vistas e audiência direta do prefeito pessoense era, como é do feitio do governador, moderado, porém, já não pareceu tão amistoso. Soou como um questionamento direto: o que seu aliado estava fazendo ali se um dia antes estava com um de seus principais adversários, planejando montar chapa política para enfrenta-lo?

Repare-se que o prefeito Cicero Lucena tem se aproximado e andado com o senador Veneziano Vital do Rego, exatamente aquele que faz oposição sistemática ao governo desde o início de 2022, quando rompeu para ser candidato a governador.

As últimas imagens de eventos com as presenças do governador João Azevedo e do prefeito Cícero Lucena, juntos, no mesmo ambiente, têm revelado, em verdade, um quadro um tanto surreal. Ambos sabem que estão trilhando, politicamente, caminhos bifurcados ou opostos, no entanto, fingem em ainda acreditar na possibilidade de manutenção da aliança que os mantinha juntos nos últimos anos.

Na realidade, o que se tem é que pensamentos, palavras e obras apontam que as relações políticas na aliança governamental estão esgarçadas, são cristal trincado, cuja possibilidade de reparo é praticamente impossível.

Por que, então, esse delicado jogo do faz de conta?

Há especulações sobre o desejo de ambos em conservarem apoios individuais, particularmente em João Pessoa (João precisaria de voto para senador e Cícero evitaria um opositor forte na Capital), apesar do rompimento coletivo. Contudo, não parece ser essa a questão. A radicalidade de uma campanha eleitoral não permite amabilidades e projeto de traição planejada é sempre temerário. São situações que, em disputas eleitorais, não se sustentam ou destroem.

O mais provável, portanto. é que governador e prefeito estejam resistindo em oferecer um ao outro motivo ou discurso para rompimento ou afastamento político. É bom não esquecer que João e Cícero fazem juras de amor e parceria política em favor de João Pessoa desde de 2020. Quem será, então, o responsável pela quebra da parceria? Quem vai mudar de discurso. É essa a questão.


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Josival Pereira

JOSIVAL PEREIRA, natural de Cajazeiras (PB), é jornalista, advogado e editor-responsável por seu blog pessoal.

Em sua jornada profissional, com mais de 40 anos de experiência na comunicação, atuou em várias emissoras Paraibanas, como diretor, apresentador, radialista e comentarista político.

Para além da imprensa, é membro da Academia Cajazeirense de Letras e Artes (Acal), e foi também Secretário de Comunicação de João Pessoa (2016/2020), Chefe de Gabinete e Secretário de Planejamento da Prefeitura de Cajazeiras (1993/1996).

Hoje, retorna à Rede Tambaú de Comunicação, com análises pontuais sobre o dia a dia da política nacional e paraibana.