Líderes empresariais usam argumentos tronchos para justificar aumento de combustíveis
Manchetes e notícias divulgadas na imprensa de João Pessoa sobre a audiência pública realizada na Câmara Municipal para um debate sobre o comércio varejista de combustíveis na Capital acabou revelando que algumas lideranças empresariais do setor usam argumentos um tanto tronchos na tentativa de justificar inusitados aumentos de preços ao consumidor.
Nem precisa buscar muito. O presidente da Fecombustíveis (Federação Nacional de Combustíveis e Lubrificantes) na Paraíba, James Thorp, pôs os aumentos na conta de empresários que fraudam a medida dos produtos nas bombas (venderiam 900 mililitros por 1 litro) e à suposta presença de facções criminosas como proprietárias de postos para lavar dinheiro (venda mais barata por sonegar impostos).
O último argumento chegou a ser negado pela própria entidade empresarial logo após a audiência a tratando como referência a uma realidade nacional e não local.
A questão é que o desmentido é tão grave quanto a falsa narrativa por demonstrar que não existem argumentos plausíveis para o recente aumento dos preços de combustíveis sem que tenha havido qualquer movimento no mesmo sentido na Petrobras ou distribuidoras.
O Procon de João Pessoa atesta não haver qualquer suspeita que algum dos 115 postos de combustíveis da Capital esteja sob o comando de alguma facção do crime organizado violento tipo PCC, CV ou outras.
O outro argumento não é menos grave. O dirigente da Fecombustíveis não apenas acusou colegas pela fraude comercial como pediu investigação contra os tais.
Não se desconhece suspeitas e denúncias sobre adulteração de combustíveis na Paraíba, mas joga-las ao vento, sem provas e sem nomes, especialmente por um dirigente da categoria, soa meio irresponsável.
A denúncia e a forma como foram apresentadas só revelam, mais uma vez, que os empresários não dispõem de um estoque minimamente transparente de justificativa para os constantes reajustes de preços de combustíveis em João Pessoa.
Pior é que, pela denúncia do diretor da Fecombustíveis, a Paraíba vai estar repleta de empresários desonestos, porque, Estado afora, a partir do Cajá, seguindo o curso da Br-230, o preço da gasolina nas bombas, por exemplo, custa em média R$5,75, mas pratica-se R$5,69, R$5,72, R$5,79 ou R$5,89, entre outras variações que demonstram a verdadeira livre concorrência no interior. Somente em Cajazeiras e Sousa o preço passa dos R$6,00, se aproximando do que ocorre de João Pessoa.
Sendo assim, é de se indagar: somente os empresários de João Pessoa seriam honestos? De todas aa formas, parecem impróprios os argumentos usados pela liderança empresarial na audiência da Câmara Municipal. Só revelam desorientação pela ausência de explicação para o aumento de preços.
Dois outros argumentos também foram apresentados: a papel social das empresas, que geram empregos (um único empresário lembrou que gera 500 empregos diretos e 500 indiretos), e a saída da Petrobras do Porto de Cabedelo.
É relevante o papel social das empresas e é de se louvar que um único empresário garanta trabalho para cerca de mil famílias, mas não é legítimo, nem legal, que se faça fita com chapéu alheio. Não cabe transferir o custo do suposto papel social, que não é gerar emprego, para o consumidor.
Quanto à questão da Petrobras no Porto de Cabedelo, que mereceu apelo do vereador Roani Mendes de unidade de todos para o retorno do terminal de distribuição, é de se dizer que a Petrobras sempre esteve lá e os empresários sempre aplicaram seus constantes e muitas vezes injustificáveis aumentos de preço. Há muito.
Não dá mais para esconder que existe um grande esforço, inclusive dentro da própria Câmara de Vereadores, para atrapalhar a instalação da CPI dos Combustíveis. Mas, se houver um pouco mais de discernimento, é plenamente possível se concluir que essa audiência pública da última sexta-feira forneceu ainda mais elementos de justificação para a instalação da CPI.



