Lula não terá palanque puro sangue na Paraíba
Uma saída seria não se prender às relações de natureza ideológicas
Um tema bastante presente na imprensa estadual nas últimas semanas tem sido a formação de um palanque para Lula na Paraíba.
O deputado Adriano Galdino, presidente de Assembleia, tem se oferecido de todas as formas para “ser” o palanque de Lula no Estado. A viabilização da intenção passaria por sua escolha como candidato a governador. No mais recente apelo, Adriano admite deixar os quadros do Republicanos e se filiar ao PT se Lula, o próprio, fizer o pedido.
A avaliação de Galdino é que, filiados ao Progressistas, o vice-governador Lucas Ribeiro e o deputado Aguinaldo Ribeiro jamais terão condições de votar em Lula. Acredita piamente que a nova Federação União Progressista não permitirá, ainda maia agora que o senador Ciro Nogueira fez desmentido a uma declaração da senadora Daniella Ribeiro sobre suposta liberação para o apoio ao presidente.
O deputado Aguinaldo Ribeiro guarda prudência e se mantém em silêncio sobre o tema, mas o sobrinho Lucas Ribeiro já assumiu que vai votar em Lula. A senadora Daniella Ribeiro, mão de Lucas, acredita que a federação vai liberar os federados na Paraíba para formar palanque com os aliados de Lula.
Essa necessidade de certa vinculação dos Ribeiro ao palanque de Lula decorre da posição do governador João Azevedo, que sempre foi aliado do petista, e ainda ao desejo de atrair o apoio de setores majoritários do PT.
Há informações, nos últimos dias, que o senador Veneziano Vital do Rego busca puxar o prefeito Cicero Lucena no MDB para facilitar o palanque para Lula.
Não dá para não observar que há bola dividida em todas essas propostas de oferecimento de palanque para Lula. As duas últimas pela inevitável presença de lideranças de partidos da direita (Progressistas, Republicanos, PSD, PSDB, Podemos), embora haja a ideia do palanque amplo. A primeira pela perspectiva de solução apenas alternativa, com risco de mobilização de porte reduzido.
Em que pesem os riscos, existem lideranças petistas no Estado inclinados a abraçar as três alternativas, ressaltando a evidente divisão do partido no Estado e confusão sobre a melhor tática a ser seguida.
Dirigentes mais experientes do PT avaliam que nada do que se cogita na Paraíba sobre palanque deve agradar ao comando da campanha do presidente Lula. É muita divisão. Os três grupos interessados são adversários locais e devem se atacar fortemente na campanha, podendo chamuscar a campanha presidencial.
Não se descarta, porém, que o presidente acabe fazendo uma opção, se os acontecimentos forçarem. Já ocorreu em 2022. Lula fez campanha para Veneziano Vital do Rego, candidato a governador por uma aliança MDB/PT, contra o governador João Azevedo, que era aliado fiel e filiado ao PSB, partido do vice-presidente Geraldo Alckmin. A experiência não foi boa.
É de se perceber que a situação da Paraíba vai causar dor de cabeça à direção nacional do PT e à coordenação da campanha de Lula pelo melindre das relações políticas.
Uma saída seria não se prender às relações de natureza ideológicas, mas à realidade eleitoral, que leva o problema para o polo oposto. Ou seja, na Paraiba, os candidatos estaduais talvez precisem mais de Lula do que o contrário.
As urnas falam. Em 2022, Lula obteve 48,43% dos votos dos paraibanos no primeiro turno. O candidato de aliança PT/MDB, Veneziano Vital do Rego, obteve apenas 17,16%. Lula foi mais votado que o governador João Azevedo, que ficou com 39,65%. No segundo turno, Lula conquistou 64,61% dos votos. O governador João Azevedo foi eleito com 52,51%. Em todas as eleições que disputou de 2002 pra cá, Lula foi mais bem votado do que os candidatos locais. Então, pelos números, essa conversa de fazer palanque pra ele não se sustente.
O problema é que, na política, nem sempre as circunstâncias funcionam. No caso, Lula tem peso eleitoral, mas dificilmente terá um palanque puro sangue na Paraíba. Talvez nem palanque tenha. Salvo o eletrônico.



