Sutilezas do jogo de poder na reunião de Aguinaldo, Hugo e Cícero
Sutilezas do jogo de poder na reunião de Aguinaldo, Hugo e Cícero
A reunião de Brasília, entre o prefeito Cícero Lucena, acompanhado pelo filho Mersinho Lucena (deputado federal), e os presidentes regionais do Progressistas, Aguinaldo Ribeiro, e do Republicanos, Hugo Motta, para tratar da escolha de candidatos da aliança governista no Estado, não produziu ou produz apenas especulações para a avidez do noticiário político estadual.
Pode até nem ter produzido certezas, algo improvável faltando ainda mais de um ano para as eleições, mas expõe sutilezas do jogo de poder e a direção mais clara de como essas lideranças devem agir para tentar resolver impasses e definir candidatos.
O encontro pode ter revelado o foco do modo de agir do grupo de lideranças da aliança do campo governista. Com a reunião, Cicero, Aguinaldo e Hugo reafirmaram o profissionalismo político, a experiência e o pragmatismo que detém bem como, em certo grau, revelaram mais claramente o que desejam das eleições estaduais de 2026.
O encontro serviu, em primeiro lugar, para evitar o esgarçamento total das relações entre o prefeito do maior colégio eleitoral do Estado e os dirigentes dos dois mais importantes partidos da aliança.
O prefeito Cícero já dava sinais de inquietação com o silêncio dos aliados em relação ao seu desejo de ser candidato a governador. Parece ter colocado em mesa a firme intenção de ser candidato, exibindo o peso eleitoral da Capital e números de pesquisas como trunfos, mas sem ameaças e consciente que o caminho mais fácil para a concretização de seu projeto político é a aliança envolvendo PSB, Progressistas e Republicanos, entre outros partidos.
Do outro lado, Aguinaldo e Hugo parecem ter percebido que já era hora de começar a desarmar os princípios de bombas ao projeto de poder que os dois ambicionam e de não alimentar as ideias divisionistas da oposição.
Embora o jogo esteja apenas em fase preparatória, não dá para desconhecer que a dupla formada por Hugo e Aguinaldo permite transparecer que celebrou um pacto não apenas para o campeonato de 2026. O plano parece ser esticar o poder por bom lapso de tempo, mais de uma década, com certeza. A disputa mais complicada, porém, talvez seja a atual. Por isso o cuidado especial com Cicero, que dispõe de fichas decisivas juntamente com o governador João Azevedo.
Essa é a clareza dos propósitos envolvidos. Todos sabem exatamente onde querem chegar e as dificuldades a serem contornadas. Para Hugo e Aguinaldo, o problema, reside em chegar ao poder já agora, direto, com um nome de casa, ou através de um aliado próximo. Para Cícero, o problema é ganhar a confiança dos contendores aliados.
A experiência e o pragmatismo do grupo se revelam em não deixar passar do ponto o momento da conversa entre eles e de acertar a forma de escalação do time.
A impressão que ficou da reunião é que o prefeito Cícero Lucena não se sentiu excluído pelo fato do vice-governador Lucas Ribeiro ser considerado candidato natural a governador se ascender ao governo e, assim, se mantém e foi mantido na disputa, da mesmo forma que Aguinaldo e Hugo ficaram cientes que precisam se desdobrar muito para contar com Cícero sem que o mesmo seja candidato. O que importa, contudo, parece ser a unidade do grupo de que fala o deputado Hugo Motta.
Em sua nota sobre a reunião, Hugo Motta tratou de acentuar que o governador João Azevedo é o líder do grupo, demonstrando o profissionalismo em seu jeito de fazer politica, consciente que o governador poderá ser decisivo na hora final da escolha de candidaturas.
Nesse primeiro encontro, os jogadores expuseram suas intenções, cartas e alguns trunfos. Pelo que se sabe, não existem decisões fechadas e o desenrolar pra valer do jogo vai começar agora. Frise-se que não existe amadores na mesa. Cícero sabe bem as cartas que tem em mãos e seus limites, assim como é quase infantil imaginar que figuras políticas como os deputados Aguinaldo Ribeiro e Hugo Motta podem tratar com desprezo o prefeito Cicero Lucena ou desconhecer a força e importância do governador João Azevedo numa eleição estadual e, sobretudo, na disputa que pode dar aos dois o controle político no Estado por bom tempo.
Pelo visto, esse jogo de poder exigirá mais paciência do que fichas, mais inteligência do que habilidade. Na mesa, ninguém nem pisca para blefe.



