Disputa política na Paraíba começa novamente a causar prejuízos ao Estado
Os sinais apontam para um novo ciclo de enfrentamento fratricida
A disputa política na Paraíba dá sinais de que pode reeditar uma fase cujos os resultados foram muito mais de prejuízos ao Estado do que a produção de ações de promoção do bem comum.
Basta acompanhar o noticiário sobre política nos principias veículos e redes de comunicação (televisão, rádios, portais e blogs) para se deparar com os riscos. Tudo gira em torno das eleições e todas as discussões são em relação possíveis nomes de candidatos. Esse é o melhor, aquele reune uma aliança maior de partidos, aquele outro tem apoio das maiores lideranças nacionais, fulano conta com o apoio dezenas de prefeitos, etc.
Os sinais apontam para um novo ciclo de enfrentamento fratricida. O episódio envolvendo o deputado Adriano Galdino, durante plenária do Orçamento Participativo em Riacho dos Cavalos, criticando durante o deputado Gervásio Filho, integrante de seu campo aliado, em local totalmente inapropriado, é um desses sinais. Existem outras contendas com sinais de se tornarem incontornáveis nas articulações para definir candidatos a governador na aliança governistas e incontáveis outras na luta para fixação de colégios eleitorais para deputados.
Não se ouve e não se lê praticamente quase nada sobre a realidade econômica e social da Paraíba. Nenhum diagnóstico mais sério da infraestrutura e das condições de vida do povo. Nada sobre planos ou projetos de desenvolvimento estratégico. Pode até ser que alguns candidatos a candidato já disponham de estudos sobre o Estado ou já tenham contratado a elaboração de planos de governo, mas, certamente, apenas para serem usados na propaganda formal, não para o debate direto com a população.
A Paraíba já viveu momentos em que a disputa politica era personalíssima e se dava em torno dos nomes de duas ou três lideranças ou grupos. O embate se dava entre esquemas políticos. O confronto mais radicalizado colocava-os em evidência a cada eleição e, imediatamente, o esquema derrotado começava a desconstruir o vitorioso. A briga política se ocupava de tudo.
Esse tipo de disputa política segurou muito o desenvolvimento sócio-econômico e administrativo do Estado nas décadas de 1980, 1990 e início dos anos 2000.
Um exemplo eloquente dos problemas causados por brigas políticas envolve o pólo turístico que hoje leva o nome de Cabo Branco. Começou com o nome de Costa do Sol no segundo mandato do governador Tarcísio Burity (1987/1990). Os governadores seguintes embromaram com alterações no projeto ou simplesmente birra política e a Paraíba acabou profundamente prejudicada. O desenvolvimento do turismo foi sabotado pela política. Somente agora, mais de 35 anos depois, o projeto está saindo do papel.
Outro exemplo: no primeiro governo Lula praticamente todos os Estados nordestinos ganharam projetos de desenvolvimento estratégico (portos, aeroportos, refinarias, polos siderúrgicas, ferrovias, novas rodovias, entre muitas iniciativas públicas, além de grandes investimentos privados). Em 2006, a imprensa estadual cobrou de Lula investimentos de porte na Paraíba e o presidente disse simplesmente que não havia projetos estratégicos do Estado. Os políticos não haviam produzido demandas ao governo federal, não reivindicaram nada de porte para o desenvolvimento da Paraíba. A disputa local consumia energia, tempo, inteligência e compromisso público. Porém, produzia estupidez em abundância.
Parece o torto caminho que novamente se prenuncia na política estadual. Não existe no radar nada ou quase nada que indique a possibilidade de um debate mais substancial para o futuro.
A conjuntura política, lamentavelmente, parece contribuir para a formação desse nevoeiro no cenário político. Há um processo de renovação de quadros políticos em curso. As principais lideranças dos últimas décadas estão fora da disputa eleitoral e as novas gerações estão se jogando no vácuo muito mais ancoradas em estruturas familiares do que em formação e conteúdo.
As últimas duas décadas, talvez pelo arrefecimento das disputas entre esquemas políticos tradicionais, mostraram que é possível melhorar a administração e colocar o poder público a serviço do desenvolvimento do Estado. A Paraiba mudou. Mas ainda falta um grande e robusto projeto de desenvolvimento estratégico para o Estado, pelo menos um projeto concebido ou abraçado pelo poder político (existem excelentes projetos concebidos pela iniciativa privada).
No momento, o mais lamentável é perceber, com antecipação, que ainda não se descortina no horizonte da disputa política frestas de luz indicando o debate necessário ao avanço administrativo que a Paraíba merece.



