Pastor Sérgio acorda para Jesus
O pastor Sérgio Queiroz parece que andou acordando para Jesus. Anunciou a desistência de concorrer às eleições para o Senado em 2026.
A expressão aí do início é usada popularmente para ressaltar a situação na qual uma pessoa toma consciência de uma realidade adversa em que estava metido ou envolvido (para amenizar).
Haverá controvérsia, mas era exatamente essa a situação do pastor Sérgio na política.
Do ponto de vista mais abrangente, pode-se registrar que a mistura entre religião e política tem gerado mais conflitos do que paz em todo mundo, divide mais do que une e os resultados finais são questionáveis, embora denominações evangélicas possam alegar que têm contribuído decisivamente para aprovação de pautas conservadores. Mas existe, por outro lado, um desgaste crescente da imagem desse segmento religioso pelas intervenções radicais de figuras como a do pastor Silas Malafaia e a atuação de alguns parlamentares, em Brasília. A triste história da igreja católica com o poder e a política é igualmente exemplo a ser observado.
Não existe experiências no mundo que atestem que um Estado religioso tenha sido ou seja substancialmente melhor do que os demais.
Haveria brecha para também discutir questões ideológicas que comandam a política e que invariavelmente se conflitam com esse fundamentos teológicos, mas esse é um ponto sempre tendente a um debate infindável.
A política, então, talvez não fosse ou não seja lugar para o pastor Sérgio.
Ao adotar a opção eleitoral, em 2020, depois de décadas dedicado à missão de transformar as pessoas e o Brasil através da igreja (o título de um dos livros do pastor Sérgio é “Igrejas que transformam o Brasil”), o pastor Sérgio parecia alimentar o sonho (um tanto inocente) de que, dentro da política, poderia avançar mais celeremente na concretização de seus ideais de sociedade. Engano que muitas pessoas de bem (filósofos, professores, médicos, líderes comunitários e empresariais, etc) cometeram. O equívoco é desacreditar na força social organizada e acreditar demasiado na força individual.
O sonho principal do pastor, conforme muitas entrevistas, em suma, era chegar ao Senado e apresentar uma série de projetos que pudessem mudar e reorganizar o Estado, instituir e consolidar políticas públicas permanentes e, certamente, algo no sentido de conter desvios comportamentais da sociedade pra lá de moderna.
Apenas 5 anos parecem ter sido suficientes para o pastor Sérgio perceber que o jogo da disputa política no campo eleitoral guarda razoável distância não apenas dos princípios cristãos, mas também de valores de correção nas relações humanas que a civilização consolidou ao longo dos séculos.
Não há nenhuma razão para duvidar que o pastor Sérgio esteja desistindo da candidatura ao Senado por um chamado à missão pastoral, argumento apresentado por ele ao anunciar a decisão, porém não é possível desconhecer que questões bem objetivas devem ter pesado na decisão.
Pastor Sérgio havia recebido o compromisso de ser o principal candidato a senador do bolsonarismo na Paraíba em 2026 para abdicar de candidatura a prefeito em 2024 e ser vice na chapa ex-ministro Marcelo Queiroga. Mas, agora, o PL lança a candidatura do deputado Cabo Gilberto, que acabou virando o queridinho da cúpula nacional, e o partido busca atrair o senador Efraim Morais para ser candidato a governador, que, com certeza, pode chegar trazendo outros candidatos a senador (Pedro Cunha Lima, Veneziano Vital do Rego, entre outros nomes). Evidente que, nesse plano, a candidatura do pastor Sérgio seria imolada. Inapelavelmente. Por isso, ele estaria se antecipando ao constrangimento.
Ainda é cedo para avaliações definitivas. A história ainda vai dizer se a política perdeu sem a candidatura do pastor Sérgio ou se os ganhadores nesse processo serão a missão pastoral da Igreja Cidade Viva, a sociedade pessoense e o próprio pastor Sérgio.
Individualmente, contudo, o pastor Sérgio já ter deve luz para seguir. Não deverá ser à-toa o título de um de seus livros: “Gloriosas Ruínas - O caminho bíblico para a restauração”.
