Por que Cícero e Adriano insistem em suas candidaturas a governador?
Uma pergunta tem sido insistentemente repetida nos últimos horas (ou dias) nas rodas políticas, entre jornalistas e grupos de conversas os mais diversos: por que o prefeito Cícero Lucena e o deputado Adriano Galdino se mantêm candidatos a governador mesmo que o governador João Azevedo e o deputado Hugo Motta, presidente do Republicanos, tenham firmado o entendimento que o vice-governador Lucas Ribeiro é o candidato natural da aliança em 2026?
Há razões particulares em cada um, mas o impulsionador da dissonância talvez sejam motivos políticos comuns. Destrinche-se, por partes.
O que impulsionaria particularmente o deputado Adriano Galdino a divergir do presidente de seu partido, deputado Hugo Motta, considerado o grande líder político da atualidade, e insistir com a candidatura a governador e até ensaiar uma ruptura de projeto?
Dá para relacionar, de cara, a existência de uma já antiga e consolidada animosidade (rixa política) de Adriano com o grupo Ribeiro, sem sinais de arrefecimento. Outra leitura muito particular de Adriano parece ser a de que, depois de cinco mandatos na presidência do Poder Legislativo, não seria o caso de ficar patinando ou regredir. Por isso, busca novos desafios.
Em ralação ao prefeito Cicero é perfeitamente plausível que avalie que, com a idade que tem (68 anos), não terá outra oportunidade de chegar ao governo estando numa excelente plataforma político-eleitoral, que é a Prefeitura da Capital. As pesquisas eleitorais também parecem funcionar como instigante razão pessoal para o prefeito pessoense não recuar do projeto de ser candidato a governador apesar de aparentemente ir na contramão de seus principais aliados.
Bom, mas Cícero e Adriano têm experiência suficiente para a compreensão que, na política, não bastam as razões pessoais, e que, sobretudo, são necessárias as condições objetivas para qualquer projeto ter um mínimo de viabilidade.
Há, então, alguma viabilidade nos projetos de Cícero e Adriano?
Os dois, com seus estrategistas, avaliam que sim.
A mais forte pressuposição é a de que fatos extra Paraíba devem alterar o esperado curso normal dos acontecimentos no Estado. Um deles pode ocorrer em dois ou três meses. A especulação é que a Federação União Progressista (União Brasil/Progressista) estabeleça em seu estatuto a proibição a seus filiados de realizarem alianças com partidos ligados a Lula e até de apoio a Lula. Isso já criaria um problema para Aguinaldo e Lucas Ribeiro, além do governador João Azevedo, que não teria dificuldades de apoiar um candidato contra Lula. Claro que os Ribeiro podem se filiar a outra legenda, mas, neste caso, a federação certamente ficaria sob o comando do senador Efraim Filho, fortalecendo-o.
Outra situação extremamente adversa se dará se o governador de São Paulo, Tarcísio Freitas, virar candidato a presidente da República. Tarcísio é filiado ao Republicanos de Hugo Motta, que não terá como amenizar no palanque para não afrontar o lulista João Azevedo. Os projetos nacionais seriam antagônicos e, dificilmente, se suportariam numa campanha local.
O quadro se agrava se o senador Ciro Nogueira, da Federação União Progressistas, for o vice na chapa de Tarcísio Freitas, como deseja e articula ativamente.
Impossível imaginar, nos três casos, qualquer malemolência da direita em favor da esquerda ou, mais precisamente, em favor do palanque do governador João Azevedo, certamente, de apoio a Lula.
O prognóstico é que, com a concretização desse ou desses quadros imaginados, nada improvável, a aliança PSB/Progressistas/Republicanos corre risco e a ideia da candidatura natural seria implodida.
A suposição é que seriam casos que obrigariam o governador João Azevedo a reavaliar a hipótese de deixar o governo para ser candidato a senador, o que colocaria o prefeito Cícero e o deputado Adriano diretamente no jogo. Se instalaria um cenário no qual a melhor forma do governador ajudar Lula acabaria sendo permanecer no governo.
Outra razão mais ampla que estaria impulsionando Cícero e Adriano a insistirem em suas candidaturas seria a dúvida sobre a viabilidade eleitoral do vice-governador Lucas Ribeiro. Avalia-se que, lá na frente, se Lucas não subir nas pesquisas, haverá necessidade de troca de candidatura e será preciso que as alternativas estejam prontas.



