Como militar, Cabo Gilberto topa missão e precipita disputa para o Senado
A candidatura do deputado federal Cabo Gilberto (PL) a senador na Paraíba, certamente, não estava em seus planos políticos individuais. A busca pela reeleição se apresentava não apenas como natural, mas um projeto aparentemente mais factível, bastando arrumar uma nominata razoável para a composição da chapa ou articular a permanência do deputado Wellington Roberto no PL. A mudança de rumos é decisão eminentemente de interesse do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Os planos de Bolsonaro para as eleições de 2026 não são mais segredo. Ele se diz candidato a presidente, mas sabe ser impossível. Além de já estar inelegível, provavelmente estará condenado e até preso no próximo ano. Se puder ter um nome da família como candidato, Bolsonaro até embarca no projeto. Todavia, seu pleno número 1 (ou zero) é a conquista da maioria no Senado, o que lhe daria controle sobre o próximo governo (de esquerda ou de direita), pode garantir anistia ou indulto (dependendo do futuro presidente), além de poder se vingar de Alexandre Morais e mexer na estrutura do STF.
O lançamento da candidatura do deputado Cabo Gilberto a senador revela que o plano bolsonarista para tentar o controle do Senado está avançado e já se encontra em fase em de sintonia fina. Já se conta a situação pormenorizada em cada Estado e Bolsonaro está escolhendo candidatos a dedo. Não basta ser de um partido de direita e se dizer conservador. Precisa ser fiel, com certificado indubitável, e certeza absoluta que não carrega o vírus da traição. Assim, os candidatos bolsonaristas ao Senado serão puro sangue e filiados do PL. É o perfil de Cabo Gilberto, que, como militar, obedece disciplina e hierarquia também na política, além de tratar escolhas como missão.
No caso da Paraíba, não basta a candidatura do pastor Sérgio, que é importante, porém, não estampa a marca bolsonarista como o Cabo Gilberto.
O movimento da cúpula do PL indica que há nisso tudo uma tática eleitoral planejada e a aposta numa possível nova onda eleitoral bolsonarista em 2026. Acredita-se que os partidos da direita menos radical vão, inevitavelmente, lançar candidatos ao Senado, rivalizando com os candidatos de partidos de esquerda. Uma nova onda bolsonarista se aproveitaria da divisão tradicional estabelecida e passaria por cima das candidaturas configuradas no sistema. A campanha do bolsonarismo para o Senado deverá ser antissistema e nacionalizada.
Não resta dúvida que, pelo que fez como deputado, comprando todas as brigas do bolsonarismo na Câmara dos Deputados e fora dela, Cabo Gilberto será o candidato de ouro do PL na Paraíba. Trata-se de uma candidatura mais importante que a postulação para o governo do Estado.
Ainda não dá para mensurar a dimensão eleitoral da candidatura do Cabo Gilberto a senador. É de se presumir, no entanto, que, diante de plano tão ambicioso, o PL tenha a tenha lançado fundada em algum estudo de viabilidade eleitoral.
Seja como for, a candidatura de Cabo Gilberto produz efeitos imediatos na disputa para o Senado na Paraíba. O bolsonarismo forma a primeira chapa completa (Cabo Gilberto e Pastor Sérgio) enquanto os outros dois esquemas políticos relutam em definir a chapa e antecipar a campanha. O governador João Azevedo por razões óbvias. A antecipação da campanha pode atrapalhar o governo, interferir nas muitas obras e diluir o poder. Para Veneziano, o bom seria continuar reinando absoluto como único candidato da oposição.
A chapa Cabo Gilberto/Pastor Sérgio vai, com certeza, precipitar definições nos demais esquemas políticos no Estado e talvez não seja arriscado antecipar a previsão que o bolsonarismo entra no páreo para o Senado na Paraíba.
