O que se passa na cabeça de Adriano Galdino para questionar tanto os próprios aliados?

Não é fácil ser comentarista político na Paraíba. Inicialmente, pela acelerada dinâmica de seu movimento político. A assertiva do mineiro Magalhães Pinto de que “política é como nuvem”, referindo-se a permanente mudança de seus desenhos e formas, parece ter sido cunhada para a Paraíba. Depois, pela alta complexidade dos interesses, das movimentações dos atores políticos e do jeito quase sempre meio torto de se comunicar.
Como entender e explicar, por exemplo, os movimentos do deputado Adriano Galdino, presidente de Assembleia, e as intenções de suas repetidas declarações com questionamentos e duras críticas aos próprios aliados? Sobram, em suas falas, reprovações ao governador João Azevedo e à família Ribeiro, que tem o vice-governador Lucas Ribeiro com a perspectiva concreta de assumir o comando do governo em março de 2026. Quais as intenções últimas da contundência do verbo do presidente da Assembleia dirigida ao seu próprio círculo político-partidário?
É de se estranhar o que vem ocorrendo, uma vez que o deputado Adriano Galdino não esconde que deseja ser candidato a governador. O caminho não fica muito mais difícil com as atitudes de cobranças públicas, críticas abertas e desconfiança externada? A lógica não recomenda atitudes positivas e passivas em busca de construção de consenso? Num colegiado pequeno, como é a cúpula da aliança governista na Paraíba, com três partidos principais, um único veto pode acabar suficiente para barrar projetos e alterar planos. Assim, do ponto de vista mais linear de leitura da realidade, parece lógico que as atitudes de Adriano Galdino mais dificultam do que facilitam.
Como entender, então, essa inusitada situação política na Paraíba?
Esforços hercúleos de sondagens levam inevitavelmente
o comentarista e uma banda do mundo a conjecturas. Mas nada fácil.
Estaria o deputado Adriano Galdino cumprindo estratagema do Republicanos para implantar o caos na aliança liderada pelo governador João Azevedo para, na última hora, o nome do deputado Hugo Motta se tornar, sem qualquer questionamento, solução de consenso e salvação como candidato a governador?
É uma hipótese possível, mas incapaz de progredir, porque não há nenhuma outra liderança no Republicanos alimentando essa emulação. O próprio Hugo Motta sempre se apresenta muito interessado na construção de uma composição de unidade negociada e não conflituosa.
Estaria, então, o próprio deputado Adriano Galdino, individualmente, cavando uma situação de confronto para justificar um rompimento e sua transferência para a oposição?
Seria uma hipótese aceitável se o deputado Adriano Galdino não fosse um político que costuma cultivar a verdade em suas relações e é daqueles que não usam de subterfúgios, sendo transparente em atitudes. Não se trata disso, então. Adriano é inteligente e tem experiência para adotar tática tão obtusa.
Da mesma forma, não dá para imaginar que o deputado Adriano Galdino esteja sendo ponta-de-lança de um movimento de seu partido - o Republicanos- com o objetivo de provocar um quadro de graves divergências no seio de aliança com o PSB e o Progressistas que acabem gerando rompimento e sua dissolução. O Republicanos tem todas as chances de ocupar o poder onde se encontra. Por que, com tanta antecedência, chamaria a oposição para o baile? Observe-se ainda que rompimentos não são do feitio do presidente Hugo Motta e de outros líderes republicanos, assim como não é do próprio Adriano.
Não sendo nada disso conjecturado, no recôndito mais profundo dos mistérios da política, o que pretende, então, o deputado Adriano Galdino com suas discordâncias, advertências e ameaças públicas aos aliados?
Talvez Adriano esteja tentando abrir o único ou um dos poucos caminhos que podem viabilizar seu sonho de ser candidato a governador.
Uma única pergunta descortina o óbvio. Quais são os principais obstáculos à candidatura do presidente da Assembleia ao governo do Estado? O vice-governador Lucas Ribeiro que, virando governador, será candidato natural à reeleição; a candidatura do governador João Azevedo a senador, que viabiliza, a assunção de Lucas ao governo, e a possibilidade da candidatura de Hugo Motta.
Não é à-toa, pois, que o deputado Adriano Galdino se repete em dois pontos: que o Republicanos é a maior força política da Paraíba e que, por isso, tem direito à cabeça de chapa, e que, se Lucas Ribeiro assumir o governo, fará de tudo para reeleger a mãe, a senadora Daniela Ribeiro.
A pregação sobre a grandeza do Republicanos vem quase sempre acompanhada da ameaça que a aliança não vence a eleição sem a participação do partido. Aqui, a ideia parece ser a de tornar a aliança governista dependente do Republicanos e temerosa de possível rompimento.
O outro ponto é o estimula à desconfiança dentro da aliança. Adriano chega a afirmar que o governador João Azevedo corre risco de perder a eleição para o Senado, disputando, de um lado, com Daniella Ribeiro com o apoio total da máquina governista comandada pelo filho, e, do outro, com Veneziano Vital do Rego, que já estaria à frente dos competidores com o apoio de emendas federais e de outros órgãos federais.
A ideia central da narrativa parece ser a de criar um ambiente de instabilidade para a candidatura do governador João Azevedo ao Senado.
Há um fio interligando tudo: na dúvida, o governador desistiria do Senado e ficaria do governo, tirando a candidatura de Lucas Ribeiro do páreo; o nome de Hugo Motta passaria a ser o primeiro da lista de candidatos a governador; como o mais provável é que Hugo fique em Brasília, surgiria então a solução Adriano Galdino, que seria praticamente a única opção do Republicanos.
Evidente que o deputado Adriano Galdino não vai revelar suas táticas políticas de foro íntimo, mas há de se convir que, com a experiência que acumulou ao longo dos anos, ele não está fazendo o estardalhaço que faz gratuitamente e sem intenções muito bem elaboradas, que não são outras que não a de ser candidato a governador praticamente a qualquer custo.
Lógico que todo plano pode ter falhas de concepção ou de execução e as atitudes de Adriano Galdino, sobretudo, na ocupação de espaços na imprensa, podem ser questionadas por suposta inconveniência, o tom elevado do discurso, estímulo ao divisionismo e outros excessos, o que atrai contestações naturalmente e torna imprevisível o final da novela. De qualquer forma, não se pode dizer que o parlamentar não é um obstinado guerreiro. O problema é que, como Dom Quixote, parece estar guerreando com moinhos de vento.
Difícil entender todo esse emaranhado político, não? Dá para perceber agora como é complicado ser comentarista político na Paraíba?