Reforma ministerial: por que Lula liga a seta para a direita e gira à esquerda?

A imprensa nacional tem registrado que o presidente Lula está prestes a concluir uma reforma em seu ministério, restando apenas mudanças em mais dois ou três postos. Desde o início, o objetivo das alterações seria injetar sangue novo na equipe para tentar estancar a sangria da perda de popularidade.
Diante do quadro de sucessivas quedas nos índices de aprovação do governo, especulou-se muito sobre a natureza da reforma ministerial, e parecia que um dos caminhos a serem seguidos seria a convocação de quadros dos partidos de direita, especialmente do centrão, para ampliar as condições de governabilidade e evitar problemas que gerassem mais desgastes. Parecia quase líquido e certo, então, que o novo ministro de Relações Institucionais, responsável pela articulação política com o Congresso, seria um parlamentar do centrão. Também havia a possibilidade de trocas em ministérios importantes e até a ampliação de espaços contemplando legendas como PP, PSD, União, MDB, entre outras. Cogitou-se até que o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira, viraria ministro, representando o agronegócio.
O que está ocorrendo, porém, é que o governo, que havia sinalizado uma guinada à direita, acabou fazendo uma leve curva à esquerda. Remanejou o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), desgastado na articulação política, para o Ministério da Saúde, pasta abertamente cobiçada pelo centrão, e instalou a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, conhecida por posições partidárias mais à esquerda, no ministério responsável pelas relações com o Congresso, majoritariamente conservador. Para outras mudanças, a sinalização é de troca de petista por petista ou de esquerdista por esquerdista, com pouca ou nenhuma abertura para a direita. Para compreender a real situação, basta dizer que ficou convencionado no governo e no PT que todos os ministérios com sede no Palácio do Planalto deverão, necessariamente, ser ocupados por petistas ou por ministros de partidos de esquerda aliados próximos.
Mas Lula não precisa da direita e do centrão para aprovar matérias do governo no Congresso e garantir a governabilidade? Precisa, e muito. Contudo, a estratégia agora nitidamente adotada é que o governo não deve ceder na gestão mais do que já cedeu (com a concessão de ministérios para vários partidos de direita), mas apenas abrir espaços na própria articulação política dentro do Congresso. Assim, líderes do governo e o comando de mais comissões serão entregues a políticos de partidos do centrão.
A pergunta que se impõe é óbvia: essa estratégia vai resolver o problema do governo? Resolver, resolver, não vai. No entanto, acredita-se que pode proteger o que resta de linhas petistas mais importantes no governo e resguardar o PT e seus aliados para a disputa de 2026. Entregar a articulação política e ministérios como o da Saúde a partidos do centrão em um ano pré-eleitoral seria, para muitos, um movimento arriscado.
O que se percebe é que, com a fragilidade política do governo, alguns partidos do centrão já se organizam para apresentar candidatos à Presidência da República. O União Brasil planejava lançar a candidatura do governador Ronaldo Caiado agora em março, mas adiou para o dia 4 de abril. Além dele, nomes como os dos governadores Ratinho Junior (PSD-PR) e Romeu Zema (Novo-MG), além da ala bolsonarista, seguem se movimentando para viabilizar a disputa presidencial. A lógica dos partidos de direita que ocupam ministérios na Esplanada é clara: uma coisa não tem nada a ver com a outra. A ocupação de cargos no governo é uma troca pela governabilidade, não uma aliança eleitoral. Assim, esses partidos devem permanecer no governo até o último momento. Se houver aliança, ótimo; se não houver, sairão sem hesitação. Muitos dos acordos estariam ou serão regidos por pura hipocrisia: um lado finge que apoia, o outro finge que acredita, e ambos aproveitam o que lhes convém.
A avaliação no governo e no PT, talvez tardia, é que, em 2026, a maior parte da direita se alinhará com candidaturas de direita, mesmo que esses partidos estejam, no momento, bem instalados no governo.
Além disso, há correntes no PT e na esquerda que acreditam que, para melhorar a imagem do governo, é necessário resgatar seus programas sociais mais autênticos e adotar políticas econômicas voltadas para os trabalhadores.
Esses são os fatores que estão levando o presidente Lula a optar por uma reforma ministerial mais à esquerda e com maior presença petista, embora