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Candidatura de Caiado talvez seja a que vai causar maior impacto no país

Por Josival Pereira Publicado em
Ronaldo caiado reproducao site oficial caiado
Candidatura de Caiado talvez seja a que vai causar maior impacto no país

Um ato político previsto para o próximo dia 7 de março poderá imprimir novos contornos à disputa política nacional, sem, no entanto, mudar a essência do embate ideológico entre esquerda e direita, além de causar algum impacto na configuração das alianças para 2026 na Paraiba.

O ato, um grande evento, é o de lançamento da candidatura do governador Ronaldo Caiado (Goiás) à presidência da República, no Centro de Convenções de Salvador (BA). Caiado é filiado ao União Brasil, mas tenta viabilizar um evento partidariamente um tanto mais amplo para gerar a sensação que ele pode virar candidato do centrão político, escapando do rótulo de direita radical ou de extrema direita, vinculado ao bolsonarismo.

Vácuo na direita

Qual a jogada de Caiado e do União Brasil? Se atirarem no vácuo que permeia o campo da direita no Brasil com a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro e a perspectiva concreta de sua condenação por tentativa de golpe.

Bolsonaro atua para manter a direita dependente de seu carisma e projeto político, alimentando uma candidatura praticamente impossível ou disponibilizando nomes da família para substitui-lo, mas são muitos os setores do conservadorismo que gostariam de se livrar do radicalismo bolsonarista. Nada mais oportuno, então, do que o vazio gerado pelas incertezas para a apresentação de outro nome para a disputa.

Potencial de Caiado

As pesquisas de intenção de voto dão ao senador Ronaldo Caiado índices apenas em torno de 5%. É bem pouco, mas seu governo em Goiás goza de alta popularidade, com números entre 70% e até mais de 80%, dependendo do instituto de pesquisa, o que pode servir de base para atrair a atenção de eleitores de todo o país.

Além dos problemas dos Bolsonaros e da popularidade em seu Estado, Caiado se joga na disputa para presidente porque a candidatura do governador Romeu Zema (MG) parece não ter conseguido sair da casca; o governador Eduardo Leite (RS) tem problemas demais para administrar; Tarcisio Freitas já deu sinais de sobra que não pretende sair de São Paulo e Ratinho Júnior (PR) não se impulsiona nacionalmente.

Qual o propósito?

O propósito do governador Ronaldo Caiado é muito claro: se ele melhorar nas pesquisas, passando dos dois dígitos ainda este ano, vai, certamente, atrair outros partidos da direita incrustados no centrão, e se tornar a alternativa do conservadorismo político em razão da perspectiva de maior fragilidade do bolsonarismo.

Não se descarte que o projeto, pelo visto, detalhadamente planejado, inclua a possibilidade que o ex-presidente Jair Bolsonaro esteja disposto a apresentar um candidato a presidente de qualquer jeito. A hora de se lançar outro nome então seria exatamente essa, quando ele (Bolsonaro) está denunciado à Justiça e gastando todo o tempo para se defender. Outro detalhe é que, na possibilidade de duas candiduras de direita, uma se beneficiaria da outra no segundo turno. Não tenham dúvidas que o bolsonarismo correria para Caiado com ele num possível segundo turno, assim como o processo se inverteria em caso contrário. O cálculo parece ser começar se livrar de Bolsonaro sem despedaçar a direita, tarefa não tão fácil.

Mudança de contorno

O União Brasil aposta fichas em marcar território com a candidatura de Caiado, forçando o centrão a se unir. E é exatamente essa perspectiva que pode mudar os contornos de disputa nacional. Talvez o ideal para Lula fosse manter a polarização com Bolsonaro, cenário no qual a direita tende a se apresentar mais dividida. Uma outra candidatura no campo da direita muda a armação do jogo. Na base do dois contra um, a direita tende a ficar em vantagem contra a esquerda.

Perfil, UDR e problemas

O candidato Ronaldo Caiado deverá se apresentar como gestor competente e governador aprovado, com discurso conservador e representante do agronegócio, o setor da economia que seria o orgulho nacional pelos níveis de produção e tecnologia que tem ostentado.

Mas talvez esse seja o grande problema de Ronaldo Caiado, que se fez conhecer nacionalmente em 1985, liderando a criação da União Democrática Ruralista (UDR), com a finalidade explícita de enfrentar o recém-fundado MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) e impedir a reforma agrária. À época o então presidente Sarney havia desapropriado uma grande fazenda numa área de conflito no Triangulo Mineiro e a UDR nasceu para combater a suposta reforma agrária.

Nesse contexto, Caiado surge na cena nacional com indisfarçável jeito de coronel rural. Bonitão arrumado, eloquente, mas com voz e jeito de coronelzão.

Luta de classes

Assim, será quase inevitável que Caiado traga para a campanha eleitoral o caráter de luta de classes, com ele representando os grandes proprietários rurais, que elegeram praticamente todos os presidentes na República Velha, tendo sido apeados do poder por Getúlio Vargas, em 1930. Agora querem voltar montados no agronegócio.

Observe-se que o agronegócio tem procurado se popularizar e se tornar simpático no Brasil a todo custo nas últimas décadas. Não é à-toa que, nos últimos anos, sustenta milionária campanha publicitária na TV Globo para tentar convencer o país que “o agro é pop” e, agora, mais recentemente, que o agro produz de “gente pra gente”, e não é uma atividade essencialmente ligada à exportação, que desmata, agride ao meio ambiente e aumenta o estrago na camada de ozônio com os gazes das vacas e bois para fornecer carne ao mundo.

Viés ideológico

O agronegócio é bom para a macroeconomia do país, mas talvez não consiga segurar o viés ideológico e de luta pelo poder que suas atividades de apoio, como os rodeios e a música sertaneja, expõem intensamente. Agora mesmo está no ar um programa semanal na TV Globo, com o nome de Viver Sertanejo, que não disfarça a intenção de tornar música, moda e o modo de ser do novo sertanejo (não o caipira) dominante no Brasil. Parece projeto de dominação cultural. Nada disso é puro acaso. O agro age há muito para conquistar o poder político nacional. A candidatura de Caiado, então, pode deflagrar um novo eixo de disputa político-ideológica no Brasil, fazendo recrudescer o histórico o embate direto entre trabalhadores e e agora empresários rurais e até estabelecer um novo confronto entre os mundos rural e urbano. É o que vir por aí.

Impacto na Paraíba

A candidatura do governador Ronaldo Caiado a presidente vai quase que obrigar a candidatura do senador Efraim Filho a governador. Ambos são do União Brasil. Haverá necessidade de montar palanque e campanha no Estado para o partido. Efraim não terá como negar.

Impacto na Paraíba 2

Outro efeito da candidatura de Caiado na Paraíba deverá ser o fim do namoro de bolsonaristas com a possível candidatura se Efraim Filho a governador e a inevitável necessidade de lançamento de uma chapa liderada pelo PL. O grupo de Bolsonaro, com seu candidato, vai precisar de um palanque próprio no Estado.


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Josival Pereira

JOSIVAL PEREIRA, natural de Cajazeiras (PB), é jornalista, advogado e editor-responsável por seu blog pessoal.

Em sua jornada profissional, com mais de 40 anos de experiência na comunicação, atuou em várias emissoras Paraibanas, como diretor, apresentador, radialista e comentarista político.

Para além da imprensa, é membro da Academia Cajazeirense de Letras e Artes (Acal), e foi também Secretário de Comunicação de João Pessoa (2016/2020), Chefe de Gabinete e Secretário de Planejamento da Prefeitura de Cajazeiras (1993/1996).

Hoje, retorna à Rede Tambaú de Comunicação, com análises pontuais sobre o dia a dia da política nacional e paraibana.