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Josival Pereira

COLUNA - JOSIVAL PEREIRA

Cerca de metade do eleitorado nacional se define como tradicional/conservador

Por Josival Pereira Publicado em
ELEITOR CONSERVADOR FOTO PAULO PINTO AGENCIA BRASIL Easy Resize com
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Partidos políticos, federações, candidatos de uma maneira geral, estrategistas e profissionais de comunicação talvez tenham muito que estudar e apreender com a campanha eleitoral que está prestes a ser concluída.

Existe uma intensa movimentação política no seio da sociedade, que talvez não esteja sendo plenamente percebida, provavelmente em função da velha maneira de conceber os modelos de definição político-ideológica dos mais variados segmentos da população.

O modelo esquerda, centro e direita ou nenhum, amplamente usado em análises gerais, permite leitura de parte da movimentação política, mas esbarra no entrave do preconceito a estes velhos rótulos. Menos perceptíveis, mas parece existir alinhamentos que, embora parecidos, talvez reflitam mais ampla e verdadeiramente o espectro político mais atual.

O instituto de pesquisa Quaest, certamente percebendo a sutileza da movimentação política mais recente, tem proposto dois modelos de quesitos para captar o posicionamento político dos eleitores nas capitais e grandes cidades. Em um quesito, pergunta se eleitor se define como sendo de esquerda, centro ou direita. Noutro, pergunta se se enquadra nos modelos moderno/progressista, moderado ou tradicional/conversador.

Alguns exemplos podem permitir a compreensão da extensão do problema. Tome-se o caso de João Pessoa. Na última Quaest, da semana passada, 16% dos eleitores se posicionaram na esquerda, 35% no centro e 36% na direita. No outro quesito, 24% se assumiram modernos/progressistas, 15% moderados e 50% tradicionais/conservadores. Em São Paulo, 22% se diz de esquerda, 31% de centro e 34% de direita. Perguntado de outro jeito, 29% se dizem modernos/progressistas, 21% moderados e 41% são tradicionais/conservadores.

Vale registrar que, pelo primeiro modelo, a esquerda está em baixa: 18% em Belém, 13% em Maceió, 16% em Salvador, 16% em Natal, 19% em Fortaleza, 21% em Recife e 24% em Porto Alegre. A direita está na frente sempre entre 10 e 15 pontos de vantagem. A surpresa aparece quando a pesquisa quer saber, aplicando o segundo modelo, quem se enquadra como eleitor tradicional/progressista: 44% em Belém, 55% em Maceió, 50% em Salvador, 52% em Natal, 50% em Fortaleza, 42% em Recife e 44% em Porto Alegre. Esses números são bem mais substanciais do que a tabela na qual se alinha o eleitor moderno/progressista, que está ali entre os 25% e os 30%. A situação é semelhante noutros Estados.

Não fez tempo, pesquisas revelavam que, em João Pessoa, 27% do eleitorado se definia como sendo de esquerda e 29% de direita. O centro chegava aos 38% ou 40% por centro. Era mais ou menos assim Brasil afora. Pelo visto, porém, houve mudança na palheta de cores.

A maioria do eleitorado brasileiro, quase metade, se diz agora tradicional/conservadora. É assim que se assume nos levantamentos da Quaest, sem que exista razão para contestação.

A ascensão da direita radical ao poder com a liderança de Jair Messias Bolsonaro e a polarização do embate político até na base social, a presença de mais de cerca de duas dezenas de governadores conservadores e a eleição de um congresso majoritariamente reacionário (quase bronco) não ocorreu por acaso. É o reflexo do reposicionamento político da sociedade.

Haverá quem diga que o eleitor brasileiro sempre foi conservador. A afirmativa é verdadeira somente em parte. Mesmo na ditadura militar, na década de 1970, em várias eleições, os brasileiros votaram de forma progressista. O movimento das Diretas Já foi moderno e progressista. O voto em Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma para presidente, em sete das nove eleições realizadas após a redemocratização, não foi conservador. Existe, pois, um movimento com reposicionamento político na sociedade brasileira.

A explicação para isso não pode ser simplória. Demanda pesquisa científica. Mas não dá para não atribuir boa parte dessa movimentação à expansão das igrejas evangélicas e neopentecostais e ao profundo desgaste gerado pelo próprio sistema político, que não se modernizou e criou mecanismos de participação popular, e se deixou mergulhar e chafurdar na corrupção, o que alimenta o discurso anti-sistema e o surgimento dos monstros salvadores da pátria. Some-se a isso os efeitos da onde conservadora planetária.

As pesquisas já estão indicando como esse novo espectro político tende a se inclinar. Nas eleições atuais, nas capitais, apesar de tradicional/conservador, pelo menos segundo as pesquisas de intenção de voto, o eleitor está ainda buscando candidatos com perfil de centro. Contudo, a questão não é apenas compreender a intenção ou a manifestação de voto. É compreender sentimento e cultura do eleitor nacional para não permitir que o caminho da escuridão se aprofunde. No contexto, os mapas eleitorais podem ser essenciais.


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Josival Pereira

JOSIVAL PEREIRA, natural de Cajazeiras (PB), é jornalista, advogado e editor-responsável por seu blog pessoal.

Em sua jornada profissional, com mais de 40 anos de experiência na comunicação, atuou em várias emissoras Paraibanas, como diretor, apresentador, radialista e comentarista político.

Para além da imprensa, é membro da Academia Cajazeirense de Letras e Artes (Acal), e foi também Secretário de Comunicação de João Pessoa (2016/2020), Chefe de Gabinete e Secretário de Planejamento da Prefeitura de Cajazeiras (1993/1996).

Hoje, retorna à Rede Tambaú de Comunicação, com análises pontuais sobre o dia a dia da política nacional e paraibana.