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Coluna Josival Pereira

A metáfora das 4 linhas é puro engodo

Josival Pereira analisa os mais recentes episódios sobre as joias recebidas por Bolsonaro

Por Josival Pereira Publicado em
Joias e armas presenteadas pelo governo saudita, que foram devolvidas.
Joias e armas presenteadas pelo governo saudita, que foram devolvidas. (Foto: Reprodução / Twitter)

O senador Flávio Bolsonaro, o filho 01 do ex-presidente Jair Bolsonaro, em defesa do pai no grotesco episódio da venda de joias recebidas como presentes de autoridades, disse, neste sábado, que o ex-ajudante de Ordens da Presidência, tenente-coronel Mauro Cid, havia recebido ordens para vender o Rolex, mas dentro dos limites das 4 linhas. Bolsonaro já havia admitido que autorizara a venda do relógio, no valor de R$ 364 mil, por entender que era um presente personalíssimo.


O ex-presidente usou e abusou da imagem das 4 linhas, comparando a política aos jogos de futebol ou outras práticas esportivas coletivas de campo e de quadras, para sustentar que agia dentro da legalidade quando fazia ataques às urnas eletrônicas, instituições como o Supremo e o Tribunal Superior Eleitoral, ou aos adversários, especialmente ao ex-presidente Lula, quase sempre chamado de ladrão pelos bolsonaritas.


Intriga como essa metáfora meio desconjurada, apesar de bem pensada, foi aceita pela imprensa, analistas da política e até pelos adversários do ex-presidente sem questionamentos.
Reparando com atenção é fácil perceber que a alegação da atuação ou ação dentro das 4 linhas é um ardil, uma esparrela, para tentar dar ares de legalidade ou normalidade a falas e ataques absurdos do ex-presidente, muitos com possibilidade de enquadramento no Código Penal.


Onde está o embuste?


No fato de que no futebol ou qualquer outro esporte praticado em arenas as faltas são cometidas exatamente dentro das 4 linhas.


É dentro das 4 linhas que se pratica o jogo bruto e se infringe as regras do jogo. Algumas vezes, as faltas são aceitáveis; noutras, são condenáveis. Quebra-se pernas, abre-se cabeças com cotoveladas, posiciona-se e marca-se gol em impedimento, desrespeita-se a autoridade (árbitro) do jogo e existem momentos em que os espetáculos viram pura agressão e violência.


Há casos, muitos, que estão inclusive sendo investigados pela polícia e pela Justiça, em que se tramam fraudes para alterar o resultado das disputas. As fraudes são tramadas em escritórios, mas praticadas dentro das 4 linhas.


Assim, dizer simplesmente que age dentro dos limites das 4 linhas não significa que se esteja jogando limpo ou que não se cometa faltas, infringindo as regras do jogo.


Quando os Bolsonaros alegam que agem dentro das 4 linhas podem apenas estar praticando um logro, um embrulho, uma engabelação. Talvez tenham plena consciência de crimes em que possam ter incididos, mas tentam passar o discurso que respeitam a Constituição e a lei. A cantilena parece ser a mesma de todas as artimanhas e farsas da política nacional. Os criminosos sempre juram de pés juntos que são inocentes e, o pior, quase sempre são inocentados pela Justiça.


Contudo, no caso da comparação com as 4 linhas, é bom que se registre que as faltas mais graves cometidas em campo ou quadras esportivas são punidas com expulsão e até banimento. Lamentável, na política brasileira não é bem assim.

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Josival Pereira

JOSIVAL PEREIRA, natural de Cajazeiras (PB), é jornalista, advogado e editor-responsável por seu blog pessoal.

Em sua jornada profissional, com mais de 40 anos de experiência na comunicação, atuou em várias emissoras Paraibanas, como diretor, apresentador, radialista e comentarista político.

Para além da imprensa, é membro da Academia Cajazeirense de Letras e Artes (Acal), e foi também Secretário de Comunicação de João Pessoa (2016/2020), Chefe de Gabinete e Secretário de Planejamento da Prefeitura de Cajazeiras (1993/1996).

Hoje, retorna à Rede Tambaú de Comunicação, com análises pontuais sobre o dia a dia da política nacional e paraibana.