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COLUNA - JOSIVAL PEREIRA

Uma ditadura militar também faz mal à direita conservadora

Por Josival Pereira Publicado em
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(Foto: Reprodução / Redes Sociais)

O que está acontecendo com o Brasil?

A questão, para a qual não existe uma resposta nem respostas simples, frequenta a mente de quem já havia se acostumado aos processos políticos instituídos com o fim da ditadura em 1984 e a promulgação da nova Constituição, em 1988.

Haviam disputas intensas, mas não chegavam aos extremos. Haviam confrontos, mas não transbordavam para a violência.

As eleições eram realizadas com a certeza de que os resultados seriam respeitados após os recursos que a legislação permite.

Havia sempre uma esperança de que as crises seriam superadas na aurora seguinte.

Bem ou mal na economia, o país já parecia seguir como nação civilizada. E democrática.

O problema é que a jovem democracia ainda não havia experimentado o movimento de todas as forças de suas entranhas. Haviam interesses que ainda não tinham se manifestado.

Talvez houvesse um desequilíbrio na correlação de forças políticas que o novo processo democrático brasileiro, após o fim da ditadura militar, produziu eleição após eleição.

É provável que os comandantes do regime militar tenham avaliado que as forças políticas mais alinhadas ao seu pensamento, no caso a direita conservadora, já estivessem preparadas para assumir o poder. Assim, poderiam ceder à pressão popular e retornar aos quartéis.

Deu certo na primeira eleição direta, em 1989, com Fernando Collor de Mello, que não conseguiu sustentar o poder por deficiência moral. O que se seguiu foram sucessivas vitórias de forças de centro-esquerda e de partidos de esquerda, como o PT, uma legenda nascida no processo de redemocratização, processo esse interrompido com o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016.

A direita voltou ao poder através das urnas em 2018, com a eleição do presidente Jair Bolsonaro, que se revelou um líder popular e carismático, mas com deficiências intelectuais e morais de tal sorte que também não conseguiu se segurar no poder.

Observe-se ainda que, durante mais de 20 anos, a direita não conseguiu sequer disputar o poder nacional, uma vez que a polarização político-eleitoral ocorreu entre PSDB e PT, centro-esquerda e esquerda, no período entre 1992 (eleição de Fernando Henrique Cardoso) e 2014 (reeleição de Dilma)

Desse modo, constata-se, facilmente, que, em 33 anos de democracia e eleições diretas, a direita só conseguiu produzir duas lideranças capazes de vencer pleitos populares e, ainda assim, em circunstâncias duvidosas (a eleição de Collor é atribuída à parcialidade do jornalismo da Globo e a eleição de Bolsonaro foi favorecida pela Operação Lava Jato e a prisão de Lula).

E por que a esquerda brasileira produziu tantos líderes populares nas últimas três décadas e a direita não?

A raiz do problema pode estar na própria ditadura militar. Com os militares governando e cuidando de tudo, as forças conservadoras brasileiras não precisaram se esforçar para preparar quadros políticos com capacidade de liderança popular. As forças de esquerda, ao contrário, forjaram expressivo quadro de lideranças na luta contra a ditadura e grandes manifestações do movimento Diretas Já, que ascenderam ao poder em todo o país com o fim do regime militar e o retorno do voto popular.

O que está acontecendo com o Brasil é que a direita conservadora está atônita com a derrota nas urnas, sem uma liderança em quem confiar e sem esperança de que possa voltar ao poder. Por isso, tentou articular um golpe. Por isso, implora aos militares na frente dos quarteis. Não consegue aquilatar o mal que uma ditadura pode causar à sua própria existência orgânica e atrasar ainda mais seu processo de organização política.


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Josival Pereira

JOSIVAL PEREIRA, natural de Cajazeiras (PB), é jornalista, advogado e editor-responsável por seu blog pessoal.

Em sua jornada profissional, com mais de 40 anos de experiência na comunicação, atuou em várias emissoras Paraibanas, como diretor, apresentador, radialista e comentarista político.

Para além da imprensa, é membro da Academia Cajazeirense de Letras e Artes (Acal), e foi também Secretário de Comunicação de João Pessoa (2016/2020), Chefe de Gabinete e Secretário de Planejamento da Prefeitura de Cajazeiras (1993/1996).

Hoje, retorna à Rede Tambaú de Comunicação, com análises pontuais sobre o dia a dia da política nacional e paraibana.