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Futebol deve vestir a camisa da luta contra o racismo, explica socióloga

Para Mônica Vilaça, o futebol é um espaço com grande potencial de intervenção e mobilização no combate ao preconceito

Por Juliana Alves Publicado em
Racismo em campo
Racismo em campo (Foto: Prefeitura de Serafina Corrêa/Reprodução)

O preconceito, na maioria das vezes, é manifestado de maneira sutil. Porém, em alguns casos é flagrado em sua face mais explícita e violenta. Uma dessas situações foi presenciada há uma semana, por milhares de pessoas, no Estádio Almeidão, em João Pessoa: um torcedor do Botafogo-PB apareceu fazendo gestos obscenos e chamando alguém de macaco durante a partida contra o Campinense-PB. A atitude do homem foi gravada e divulgada em um vídeo nas redes sociais.

“O sentimento é de tristeza, revolta. A gente tem que combater, mostrar e expor. Até quando as pessoas vão se achar no direito de machucar apenas por ódio, pelo tom da pele?”, pontuou Diego Rolim, integrante da torcida organizada ‘Setor 31’, que divulgou o vídeo do suposto caso de injúria racial.

Para Diego, atitudes como essa merecem cartão vermelho. “O futebol é um espaço democrático, é um lugar para todos e todas”, pontuou.

Caso de injúria é investigado

A Polícia Civil da Paraíba iniciou as investigações para apurar se houve crime de injúria racial na atitude do torcedor do Belo.  Ao Portal T5, o delegado Marcelo Falcone, responsável pela delegacia especializada no combate a crimes raciais, disse que o suspeito será chamado para prestar depoimento e deve ser indiciado por injúria racial.

Jogando no mesmo time

Mônica Vilaça é doutoranda em Sociologia e militante na Marcha da Negritude Unificada e no Movimento de Mulheres Negras da Paraíba. Para ela, o espaço do futebol também pode ser um lugar de problematização de realidades com relação à raça, gênero, entre outras lutas. “É sempre importante nós olharmos para este espaço e percebermos o potencial que ele tem de contribuir com a mudança”, afirmou.

De acordo com Mônica, reconhecendo a capacidade de influência do futebol, é preciso estabelecer agendas contínuas e permanentes de formação e debate. “Eu acredito que essas são possibilidades reais e concretas para aproveitar o potencial de intervenção e mobilização, em especial, do futebol”. Ainda segundo ela, ações como essas devem envolver os atletas e os clubes.

Injúria racial é crime

Atualmente, a injúria racial está tipificada no Código Penal. Para quem ofende a dignidade de outra pessoa utilizando elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, entre outros, é prevista pena de reclusão de um a três anos e multa.

Na Paraíba, de janeiro a dezembro de 2021, foram registrados 27 crimes de racismo ou injúria Racial contra pessoas negras. Os dados foram divulgados pela Polícia Civil.

Para a socióloga Mônica Vilaça, os números são relevantes, mas sofrem de um processo permanente de subnotificação. Entre as razões para isso, estão os desgastes e as dores que o processo de denúncia provoca na vítima.

“Temos situações cotidianas de violação de direitos do povo negro que não são denunciados – por medo, por preocupações com relação a tudo que desencadeia um processo de denúncia, pelo sofrimento que a denúncia traz”, explicou.

“O ato de denunciar também exige que a pessoa negra que sofreu um processo de racismo ou de injúria racial tenha uma compreensão muito estabelecida de sua condição e de seus direitos. E isso não está posto para a maior parte da nossa população”, acrescentou ela.

Final do Paraibano

O Botafogo-PB e o Campinense voltam aos gramados, neste sábado (21), para decidir quem será o campeão paraibano de 2022. A partida acontece em Campina Grande, no Estádio Amigão, às 16h.

Vale lembrar que no jogo de ida a Raposa bateu o Belo por 2 a 1, no Almeidão.

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